2. Eu bem te disse. No Telegraph desta terça-feira William Hague (o líder Tory quando o euro foi introduzido) cavalga a crise para afirmar a razão da sua oposição ao euro. O argumento é conhecido: “Quando se fixam coisas que é suposto variarem naturalmente, como taxas de juro ou taxas de câmbio, outras, como o desemprego e salários (reais, adiciono eu), vão ter necessariamente de variar mais”. Uma união monetária apenas poderá contornar este problema, continua, “através de transferências orçamentais ou largos movimentos populacionais inter-regionais”.
3.E depois? William Hague e outros críticos do euro até podem ter razão. Concordo com aqueles que afirmam que na criação da moeda única houve excesso de voluntarismo, com pouca atenção às consequências da falta de outros pilares da construção europeia, como a união bancária, o federalismo fiscal e a legitimidade democrática. Mas isso foi então! E agora, o que fazer? Certamente que as posturas moralistas e que o atirar de pedras nada resolvem. Apesar de a Grécia já ter alguns elementos de um Estado falhado – sendo a própria eleição do Syriza um desses indícios -, é do interesse de todos prevenir o seu colapso. Talvez a melhor solução seja, como sugeria Gideon Rachman no FT, converter esta crise numa oportunidade e criar condições para uma saída voluntária, ordeira e o menos traumática possível da Grécia da União Monetária, mas permanecendo na UE.
4. Um Grexit ordeiro? Ninguém sabe muito bem como; estas são as verdadeiras águas nunca dantes navegadas. Mas alguns ingredientes são conhecidos. O controlo de capitais já ai está. A compra da dívida grega detida por BCE e FMI pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade em termos generosos para a Grécia (como, por exemplo, o perdão) dever-se-á seguir. Em contrapartida, a Grécia deverá deixar de poder aceder a futuros resgates ou à assistência de liquidez pelo BCE. Sem capacidade de ‘oferecer’ euros, o Governo grego terá de pagar aos seus funcionários e pensionistas com promissórias que em breve se converterão em moeda paralela circulando a desconto face à moeda ‘legítima’ (no fundo, uma ‘euroização’ ao contrário).
Crónica originalmente publicada na edição em papel do SOL de 10/07/2015