Escalou as fileiras cartelistas a pulso, sem “piedade para com quem falha”, escreve Saviano. “Desde 1995, é ele o grande chefe da facção nascida em 1985 das cinzas do cartel de Guadalajara”, acrescenta o autor – e será ele a cabeça da hidra: o don de Sinaloa, hoje com 58 anos. A Forbes atribuiu-lhe o 14.º lugar na lista dos mais ricos do mundo, com uma fortuna estimada em mais de mil milhões de dólares. Domina a maioria dos ‘postos’ de droga na fronteira com os EUA e os tentáculos do cartel alcançam não só a América do Norte como a Europa e a Austrália.
Da cela vigiada 24 horas por dia, El Chapo mantém contacto com o exterior: o túnel desemboca sob o chuveiro, inacessível à câmara por razões de privacidade. Como a remoção de mais de três mil toneladas de terra e a construção do túnel não atraíram atenções, não se sabe. Mas imagina-se. “Todos os envolvidos na fuga vão cair”, afirmou o ministro do Interior Osorio Chong.
Em visita oficial a França, o PR Enrique Peña Nieto – que se orgulhava de ter a detenção de El Chapo no currículo do seu mandato e tem agora a nódoa da fuga do barão da droga – engole as palavras: no ano passado, após a captura do líder de Sinaloa, Nieto considerou “imperdoável” a hipótese de fuga.
Crónica de um fugitivo
Mas aconteceu. E pela segunda vez. Em 1993, depois de preso no Guatemala, foi extraditado para o México e condenado a 20 anos por homicídio e tráfico de droga. Em 2001 conseguiu evadir-se da prisão de alta segurança de Puente Grande. O meio para a fuga teria sido um carrinho de roupa suja, mas outra versão ganhou força, relatada pela jornalista mexicana Anabel Hernández, autora de Los Señores del Narco: sabendo que as autoridades estavam avisadas, El Chapo escapou (com a ajuda de guardas prisionais) pelo próprio pé e pela porta grande, fardado de polícia. A fuga terá sido apressada porque o Supremo Tribunal aprovou uma lei que tornou “muito mais simples a extradição para prisões norte-americanas de mexicanos com acusações pendentes do outro lado da fronteira”, notou Saviano.
As autoridades norte-americanas – como a DEA, Drug Enforcement Administration, agência de combate ao narcotráfico – esperavam a extradição de El Chapo para julgamento nos EUA. A DEA participou na detenção do mexicano em Fevereiro de 2014, após mais de uma década a monte: foi apanhado em casa, na cidade costeira de Mazatlán, onde vivia com a quarta mulher e duas pequenas filhas gémeas. E foi a DEA que cinco anos antes, relata Saviano, montou a operação que levou à detenção de “750 membros do cartel nos EUA”, além de armas, heroína, metanfetaminas, marijuana, cocaína, ecstasy, carros, barcos, aviões: uma amostra do poderio do ‘Atarracado’ em terras do Tio Sam.
Após a notícia da fuga, a Casa Branca ofereceu-se para ajudar. Os americanos não podem estar contentes com o facto de “a maior caça ao homem na história” ter resultado em pouco mais de um ano de cadeia. O Governo mexicano ofereceu uma recompensa de cerca de 3,5 milhões de euros por informação que leve à captura de El Chapo. Trocos, para a carteira do rei de Sinaloa.
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