Dito isto, independentemente de se ter ou não presenciado o regresso aos palcos dos Blur em 2013, é claro que a questão emocional está sempre presente. Damon Albarn faz questão de manter essa ligação com o público intacta, e nem precisava segurar na bandeira portuguesa (como o fez na recta final do espectáculo no Meo Arena) para encher os corações das milhares de pessoas que se deslocaram ao Parque das Nações para os ver. É a sua comunicação e generosidade constantes para com o público, de quem se aproxima sem medos nas inúmeras vezes que desce ao fosso, e o seu carisma natural para unir uma sala longe de estar esgotada e com vários problemas de som, que mistura fãs adolescentes que anseiam por êxitos maismainstream como ‘Song 2’ ou ‘Coffe and TV’, com outros mais veteranos, que exigem ‘Parklife’ logo nos primeiros minutos do concerto, e ao que Damon responde, com humor, “of course, but not now! Unless you want to come up here and make a fool of yourself…” (“claro, mas não agora. A não ser que queiras vir aqui para cima e fazeres má figura”, em tradução livre).
Antes de o tema que deu nome ao terceiro disco da banda britânica (em 1994) soar, ouvem-se canções do novo disco ('Go Out', 'Lonesome Street' e 'Thought I Was a Spaceman') e passeiam-se por músicas obrigatórias como ‘Out of Time’, ‘End of a Century’, ‘Tender’ e 'Beetlebum', a serem cantadas em uníssono com o público. Cerca de hora e meia depois do início do concerto, lá chega a vez de ‘Parklife’ e o líder dos Blur não se esquece do fã agarrado às grades na primeira fila. É a ele, ao João, ficamos a saber mais tarde, que se dirige e pergunta se sabe mesmo a letra toda da canção.
Confirmação dada, Damon chamo-o para palco, que o rapaz sobe de forma atabalhoada tal a emoção. E o que se segue derrete o coração de todos os espectadores: assim que pisa o palco, João agarra-se ao vocalista num abraço apertado e demorado e Damon retribui com a mesma intensidade. Depois, o músico ainda faz questão de percorrer o palco e apresentá-lo individualmente a Graham Coxon, Alex James e Dave Rowntree.
A internet pode ter-nos estragado muita coisa – como a expectativa de se ansiar por cinco horas de concerto semelhantes ao que Damon deu no festival de Roskilde, com o projecto Africa Express, ou sabermos de antemão o alinhamento completo de um espectáculo -, mas são momentos espontâneos e únicos como este que justificam devoções eternas a bandas, a ídolos, e, sobretudo, a figuras maiores da nossa cultura pop como o é o grande Damon Albarn.
Benjamin Clementine e Kindness
Além dos Blur, Benjamin Clementine, Kindness e Savages foram os outros pontos altos do segundo dia do SBSR, talvez o mais forte e coeso em termos de cartaz. O primeiro trouxe até Lisboa o seu disco de estreia, “At Least for Now”, e provou que aos 26 anos é uma das grandes promessas da música britânica, sendo a sua música dotada de uma poesia e interpretação vocal notáveis.
Já Kindness, projecto do também inglês Adam Bainbridge, voltou a contagiar toda a gente com a sua boa-disposição e energia, interagindo com o público sempre de forma muito calorosa. E as Savages, banda que também já não é nova para a plateia nacional, reproduziram aquilo que têm mostrado saber fazer melhor: um punk-rock visceral, que tem na atitude da vocalista Jehnny Beth grande parte da sua força.
Hoje o festival encerra com as actuações de, entre outros, Florence & The Machines, FFS (Franz Ferdinand & Sparks), Unknown Mortal Orchestra e Banda do Mar.