Fazer paddle nos mares das Caraíbas. Este é o plano a curtíssimo prazo do chefe francês, Vincent Farges, que no mês passado anunciou a saída do restaurante da Fortaleza do Guincho, com uma estrela Michelin, onde passou os últimos 10 anos. A saída, de livre vontade, foi motivada por uma procura de novos horizontes que acabou por encontrar nos Barbados, para onde se vai mudar no final deste mês. “Depois de 10 anos na Fortaleza do Guincho, precisava de um novo arranque na minha carreira, de uma coisa nova e completamente diferente. Procurei várias oportunidades em Portugal mas a verdade é que não encontrei nenhum sítio que considerasse ‘sapato para o meu pé’. Infelizmente tive que ir procurar fora uma coisa que eu não consegui encontrar cá”, confessa, realçando no entanto que não vai de todo para um degredo auto-imposto: “são as Caraíbas! A água é quente, o tempo é óptimo”. Basta aliás ver as fotografias do resort que o acolherá nos próximos dois anos para nos certificarmos que está bem entregue.
No entanto, ainda não partiu e já está a programar o próximo regresso a Portugal, daqui a um ano, onde vai lançar com o compatriota Benoit Sinthon (do restaurante Il Gallo d’ Oro – uma estrela Michelin -, do grupo Porto Bay presente na Madeira, e agora também em Lisboa) o Festival Bistronomie.
Os dois franceses inspiraram-se nos pequenos bistrôs da sua terra natal para este evento que pretende mostrar uma gastronomia francesa do quotidiano, mais afastada do conceito de fine dinning a que habituaram o seu público. “Pequenas porções, mais acessíveis, com produtos nacionais e franceses, feitas por chefes com talento. Teremos também convidados internacionais, sendo que nós – eu e o Benoit – vamos fazer receitas utilizando o máximo de produtos locais e os chefes convidados vão trazer receitas de fora. No fundo, a ideia é criar a Rota do Bistrô, tal como há a Rota das Estrelas. Sei que posso ter uma imagem um pouco colada ao fine dinning da Fortaleza do Guincho mas eu faço muito mais do que isso”, brinca.
Mas mesmo até lá, o chefe já tem outras ideias em marcha. Há três anos que desenvolve uma parceria com uma pequena produção artesanal conserveira açoriana onde trabalha o peixe de uma maneira totalmente diferente: “primeiro só tenho peixe pescado de forma tradicional e aquilo que é da época. Depois não vou congelar nem cozer o peixe antes, como é habitual. Vem do barco, vai para a lata em cru, é feita a esterilização e já está”.
Não será exactamente assim, já que pelo meio vai introduzir as suas receitas, azeite selecionado sob medida e citrinos. Uma ligação que também dará frutos num livro, A Rota dos Citrinos, que lançará em parceria com o produtor Jean Paul Brigand. Este francês, na herdade ‘Sítio do Olhar Feliz’, perto de Cercal do Alentejo, tem a mais diversificada produção de citrinos da Europa e já trabalha com o chefe Vincent Farges há anos. “A ideia é trabalhar 40 a 50 citrinos, o que envolve muitas fotografias, muitas receitas e por isso ainda levará algum tempo a sair do prelo”.
O livro terá a explicação das características de cada fruto por Brigand e receitas pela mão de Farges, que podem ser facilmente replicadas em casa. Ou no restaurante em nome próprio, em Lisboa, definitivamente o grande objectivo para o seu regresso a Portugal. “Tenho muitas ideias mas tudo vai depender do local e da pessoa que vai querer abrir comigo. Gostaria que fosse um restaurante em que a pessoa não vai simplesmente jantar, mas um restaurante memorável onde se viva uma experiência inesquecível, não só ao nível da cozinha, mas de todo o ambiente. Esse é o meu sonho”.