É uma família?
E é curioso, porque eu era muito jovem no princípio do TEC mas ousava. Decidi convidar a Eunice Muñoz para fazer a Fédora, fomos almoçar os dois e ela disse: ‘O que era engraçado era chamarmos também a Amélia Rey Colaço’. Ganhei coragem, telefonei e ela veio. Também foi assim quando o Miguel Torga me tinha dado o Mar para fazer. Telefonei ao Almada Negreiros para fazer o cenário, apesar de achar que era absurdo e que ele me ia dizer que não. Mas aceitou. Tudo isso são marcas que eu não quero perder com o tempo. Sempre fui considerado muito rebelde, diziam que eu era o enfant terrible. Agora não sou enfant mas quero continuar terrible.
O ‘Peer Gynt’ requer essa coragem?
É uma peça muito cara, tem muitos actores e têm-nos cortado muitos dos subsídios. Um júri que nem sequer vê espectáculos. Mas cá estamos. E logo a seguir vou fazer o Macbeth, para estrear no dia exacto do nosso aniversário – 13 de Novembro. Já fizemos esta peça com encenação do Jorge Listopad, mas ficou-me atravessada esta vontade. Espero que não arda o teatro nesse dia, como rezam as superstições.
Ainda se lembra do início?
Eu e o João Vasco estávamos a fazer uma peça na Guilherme Cossoul e já tínhamos feito algumas digressões juntos. Um dia ele viu um teatro vazio em Cascais, que era o Gil Vicente, e fomos falar com o presidente da Junta de Freguesia. O senhor António (motorista da Junta) ia buscar-nos à Maternidade Alfredo da Costa e levava-nos para Cascais numa carrinha, não ganhávamos nada. Depois passámos todos a viver lá. Nunca podia sonhar que ia durar 50 anos, era só para fazer uma peça.
Quer continuar a ousar?
O nosso público espera coisas de nós. Não me importo de acabar, mas tem de se acabar em grande. Quando sentir que já não somos o que devemos ser, não fará sentido continuar. Até agora não faria nada diferente e tenho muito orgulho no nosso percurso. É como diz Peer Gynt: é preciso acreditar na sorte.