Estamos a falar do restaurante Esperança da Sé, aberto em 2011, e que funciona como uma espécie de filial de outro Esperança, o original, o do Bairro Alto (ver caixa). A mesma lista, a mesma boa comida italiana, o mesmo serviço impecável, o mesmo ambiente intimista. Com a vantagem de haver menos enchentes do que no outro, e ser portanto possível aventurarmo-nos a ir lá sem marcação antecipada (o que não aconselho).
No Bairro Alto, o espaço era antes de uma mercearia e taberna típicas da zona. Aqui, funcionou antes o Viagem dos Sabores, com algumas similitudes – como o ambiente sóbrio e intimista.
Já frequentei este Esperança da Sé no Inverno, com a devida satisfação: a decoração rende-se às grandes portadas abertas para a muralha românica da Sé (que, nesta parte, já não parece ser do templo, mas de uma continuação com um ar mais fortificado). Mas, sobretudo com estes calores ou tempo mais bonançoso do Verão, perco-me mesmo é na pequena e agradabilíssima esplanada.
Vejamos a lista: lá estão as pastas (aprovadíssimos os ravioli de presunto, mais o spaghetti al parmegiano com tartufo, em que as trufas surgiam na conta e o manjericão se soltava alegremente, o linguini de vieiras, ou o linguini nero com gambas, a tagliatelle al salmone), os risotos (apostei no de lima e gambas, e no nero que, além do sabor dos chocos, leva tomate, limão e bacon), a focaccia da entrada, os carpaccios (delicioso o de atum com alcaparras), as saladas e as inevitáveis pizzas (que constituem uma aposta muito especial desta cozinha). As pizzas são muito finas, estaladiças (como eu prefiro em relação às mais grossas italianas), e com massa feita na casa. O prato especial daqui é de resto uma pizza: a de figos. E eu, em pizzas, fico-me pela simplicidade da Margherita. De resto, detesto figos, o que me levou a não provar sequer – embora tivesse visto que conjuga outros sabores delicados, como o do presunto de Parma e o de queijo talvez de cabra.
Nas sobremesas, brilham os gelados Santini, embora não faltem as habituais especialidades italianas, como as panna cottas e os tiramisus,
Nos vinhos, lamenta-se talvez a pouca variedade, sobretudo a copo, embora se reconheça uma selecção cuidada, incluindo nas referências menos conhecidas.
Mesmo no interior, e num dia quente de Verão, com as portas altas abertas, a iluminação e a música suaves, tudo é convidativo. Mas aquela esplanada, sobretudo à noite, com as suas lanternas de luz alaranjadas, é o sítio ideal para uma noite de Verão.
panunciacao@sapo.pt
Esperança da Sé
Rua São João da Praça 103, Alfama, Lisboa
Não fecha
Fumadores na esplanada
BI
Duarte Uva, 46 anos, um gestor que gostava muito de pesca e caça submarina, começou a dedicar-se aos restaurantes em 2005, com o Esperança do Bairro Alto.
Embora hoje tratemos especificamente do Esperança da Sé, é no outro, o primeiro e original, o do Bairro Alto, que se define o conceito: ambiente intimista, apoiado numa iluminação muito suave, na música jazz e no mobiliário moderno distribuído com a precisão própria de não ser nem minimalista, nem excessivo, excelente serviço, e boa comida italiana – baseada esta em pizzas estaladiças e finas (muito mais do que as originais italianas), com a massa feita na casa. E aproveitando espaços com uma aura especial.
Duarte Uva começou nisto há 10 anos, com 36, depois de passar alguns a trabalhar na sua área de gestão. E resolveu concentrar-se no Bairro Alto (onde a última iniciativa foi a Cervejaria do Bairro, sempre muito ‘in’, pejada de caras conhecidas) – embora com incursões noutros locais, como este Esperança da Sé.
O peixe e mariscos frescos, da sua paixão pela pesca e caça submarina, só aparecem mais explicitamente na Cervejaria do Bairro, situada onde ele próprio tivera já um bar, o Bedroom. Mas o seu gosto pela comi-da italiana de qualidade é per-feitamente identificável nestes Esperanças.