2. Voltemos, então, a Paulo Portas. Julgamos que Portas esteve melhor na parte política pura do que na parte mais técnica. Por uma razão: Paulo Portas, que tem divergências pontuais com alguns dos membros do Governo do PSD em relação a algumas matérias (vide CES ou sobretaxa), não poderia optar por um discurso muito técnico ou pormenorizado – sob pena de criar mal-estar em certo PSD, gerando-se nova (indesejável) polémica. Polémica que Portas teria, depois, de resolver, dando o dito por não dito. Assim, Portas, em vez de ficar no plano da pura acção política, voltou à base, à “basezinha”, explicando os fundamentos de filosofia política que presidiu às decisões do Governo.
3. Concretizando: em vez de explicar os fundamentos e pressupostos técnicos da CES ou da sobretaxa, Paulo Portas optou por evidenciar a razão política que levou à adopção de tais medidas. O que lhe permite, a um tempo, distanciar-se ideologicamente da medida (foi imposta pelos factos) e criticar dura, embora subtilmente, o Partido Socialista e José Sócrates. Sem nunca nomear os líderes, Paulo Portas zurziu várias vezes em José Sócrates e António Costa. Mais no primeiro e menos no segundo. Porquê? Fácil: para colar António Costa ao legado de José Sócrates, mostrando que o PS de hoje é uma continuidade do (trágico!) PS de 2005-2011. Muda o líder, mas os socráticos e a alma socrática não desaparecem do Largo do Rato.
4. Parece-nos, tudo dito e revisto, que tivemos, na SIC, o Paulo Portas doutrinador. O que é positivo: faz falta um doutrinador na Coligação! Aliás, faz falta um doutrinador na direita portuguesa. Paulo Portas, infelizmente, durante larguíssimo tempo aderiu à moda do pragmatismo político hardcore: desta feita, voltou suavemente às suas vestes de político felino e pensador brilhante.
5. Curioso é notar – desconhecemos se foi devidamente planeado com o Primeiro-Ministro, se foi coincidência ou uma jogada fulminante de Paulo Portas – que a entrevista de ontem de Portas é complementar à entrevista de Pedro Passos Coelho realizada na semana anterior. Enquanto Pedro Passos Coelho foi muito técnico, explicando grandes números e cingindo-se à macroeconomia e política europeia – Paulo Portas apostou nas ideias de esperança e da relevância das matérias sociais. É preciso apostar nas pessoas e garantir que há mínimos de dignidade inultrapassáveis. A próxima legislatura ou é social ou não é – afirmou Paulo Portas. Bem.
6.Portas criou mesmo uma nova doutrina: a doutrina da “esperança progressiva ou moderada”. É preciso incutir esperança e confiança nos portugueses – mas sem vender ilusões. É preciso esperança – mas uma crença consciente e realista na capacidade de um Estado se converter de “Estado-falido” para “Estado estável” em poucos anos. É preciso esperança – mas sem a loucura socialista-socrática que é a doutrina de António Costa. É preciso esperança – mas esperança com responsabilidade, exigência e transparência.
7. Em conclusão, Paulo Portas mostrou, mais uma vez, que é um comunicador nato e um político felino e genial. Fala-se muito da inabilidade na gestão de informação e comunicação da coligação. Como é possível um Governo que tem Paulo Portas sofrer de um défice de habilidade comunicativa? A coligação precisa de Paulo Portas. De facto, não há líder político que se compare a Portas, em comunicação e estratégia política. Portas é o Cristiano Ronaldo da comunicação política (dos políticos no activo). Passos Coelho, temos de o colocar mais vezes em campo. Logo no onze inicial. Pode ser já nas próximas semanas? A campanha já começou: não podemos jogar para o empate…Há que jogar para golear, ou seja, para a maioria absoluta. E o “Portas-Ronaldo” tem de marcar já…