Marco António Costa ainda não chegou a essa fase, mas as fontes com quem falámos, sem qualquer excepção, afirmam que a próxima semana poderá ser a última do seu ciclo de influência ou a primeira do próximo ciclo de poder. A sua ambição, para muitos desmedida, posicionou-o nas estruturas de poder do PSD, mas a investigação que está a ser alvo por tráfico de influências, e tudo o que veio a lume depois, esfriou a relação com o primeiro-ministro. No final de Junho, numa visita oficial a Viseu, Marco António deslocou-se para poder estar com Passos Coelho, foi acintosamente tratado com distância. Vários o perceberam.
Uma distância que Marco António atribui, diz-nos um influente presidente de câmara social-democrata, a círculos próximos a Miguel Relvas. Está convencido de que foi o ex-ministro a tratar de lançar as acusações por interposta pessoa, algo que este nega em absoluto, o que é verosímil para quem o conhece: é indisfarçável que pode ter muitos defeitos, mas não o de fazer o que diz que não faz. Relvas nega, muito provavelmente o afastamento entre os dois será para sempre, o que será mais um obstáculo para Marco António.
Quanto à negociação dos nomes dos futuros deputados, Passos Coelho decidirá todos os cabeças de lista, o resto prevê-se que possa ser mais complicado. As concelhias enviaram os nomes para os presidentes das distritais que têm o dever de informar a direcção das suas escolhas até ao final do dia de ontem – o mais certo é que os líderes de cada distrito recebam esta sexta um telefonema de Passos onde serão informados das suas escolhas pessoais. Terça e quarta, na sede do PSD, a troika do partido (Marco, Montenegro e o secretário-geral, Matos Rosa), receberão cada distrital e o jogo terá aí algum picante. Não apenas pelas normais disputas entre bases famintas, como também pela silenciosa e não anunciada guerrilha entre Marco António e Luís Montenegro. Um e o outro, por motivos diferentes, posicionam-se para a possibilidade de serem líderes – Marco António por ser a ambição de uma vida (e agora por uma questão de sobrevivência) e Montenegro por ser a opção que resta se tudo falhar com Passos e o PSD necessitar de um líder de transição. Algo que o líder parlamentar social-democrata não alimenta, aos que o desafiam diz sempre que o próximo líder se chamará Passos Coelho. Todavia, nem por acaso, Miguel Relvas numa recente entrevista lançou dois nomes que vê como futuros líderes: Sérgio Monteiro e Montenegro. Quanto a Sérgio, o mais poderoso secretário de Estado do Governo, não será para agora. Com filhos, encargos e sem liberdade económica suficiente, já fez ver que não poderá aceitar ser deputado, ficará num espaço de recuo, muito bem pago e protegido das agruras partidárias.
O mesmo acontecerá com Miguel Poiares Maduro, diz ao SOL um seu colega de Governo. Voltará a Florença, excelente desculpa para fugir de uma experiência governativa que não lhe correu bem. Desafiado e apresentado como se fosse uma espécie de Cristiano Ronaldo revelou-se um Hélder Postiga, com boas ideias mas sem qualquer capacidade para marcar golos. Politicamente ficou marcado pelos erros iniciais e pela equipa que escolheu, com excepção de Leitão Amaro ninguém será aproveitado pelo primeiro-ministro, ressalva a nossa fonte.
Nos cabeças de lista que Passos Coelho anunciará ao país estarão independentes, cavalo de batalha do primeiro-ministro que tentará provar que uma parte da sociedade civil está consigo… assim como a Igreja Católica. Dizem-nos que a Igreja pediu ajuda ao Governo para ressuscitar a discussão da interrupção voluntária da gravidez, será tempo de cobrar o favor – pelo menos é assim que nos ensinam os livros de ciência política, os favores cobram-se sempre e Passos é elegante mas consistente quando usa o seu melhor fraque para cobrar dívidas.
Falamos de legislativas, mas as presidenciais são parte da equação. Passos odeia Marcelo (ainda hoje se fala da frieza gélida com que falaram um ao outro, sempre entre sorrisos, num dos últimos congressos do PSD). Luís Montenegro, aliado a Miguel Relvas, quer que o professor avance. Marcelo tem medo de perder espaço com o avanço de Rui Rio que, ao contrário do que se disse, foi empurrado por Marco António e não por Passos – é o ex-autarca que quer o caminho livre de adversários, o primeiro-ministro não perde tempo a pensar nisso.
Cavaco Silva, o país já o sabe, não viabilizará qualquer governo minoritário. Quem ganhar dependerá de quem perder, uma verdade de três simples. Num cenário de vitória da coligação, Passos Coelho, segundo apurou o SOLl junto de um governante que está na primeira linha de apoio ao primeiro-ministro, aceitaria viabilizar o governo se o PS fosse liderado por Francisco Assis. Talvez tenham acontecido contactos, talvez não. Não lhe podemos assegurar. Contactos que, a confirmarem-se, terão de ter tido melhor resultado do que a cama que Passos Coelho comprou por estes dias no IKEA. Acompanhado da filha e de discretos seguranças, pagou o que tinha de pagar mas ao chegar ao carro percebeu que a cama, mesmo desmontada, não cabia em lado nenhum.