O governante, que falava em declarações à rádio pública angolana, a partir de Madrid, onde se encontra a participar numa conferência sobre combate ao terrorismo, criticou igualmente a presença da eurodeputada portuguesa Ana Gomes em Angola para se inteirar do assunto.
Ângelo Veiga Tavares assegurou que as autoridades angolanas têm tido a "serenidade suficiente para resistir algumas tentações e não reagir na mesma moeda ou da mesma forma como algumas pessoas".
Considerou "bastante irresponsáveis" as pessoas que "sem conhecerem o pendor do processo vêm fazendo algumas declarações, algumas delas irresponsáveis, outras, se calhar, inocentes, por desconhecerem os meandros do processo".
"Mas vamos continuar a trabalhar com essa serenidade e dando garantias que estamos a levar o processo de forma responsável e de acordo com o que está estabelecido na lei", referiu.
"Gostaria de uma vez mais dizer que as pessoas devem estar serenas, deixar que os órgãos de Justiça realizem o seu trabalho. Nós poderíamos e, se calhar em momento próprio, iremos dar outras informações mais claras, mas quando estivermos numa fase em que o segredo de Justiça esteja levantado", realçou.
O titular da pasta do Interior criticou intromissões estrangeiras em assuntos internos de um "Estado livre, independente e soberano", exemplificando com a visita de Ana Gomes, esta semana, a Luanda.
"Nós acompanhamos, embora estando distante, a visita da eurodeputada Ana Gomes, mas há em Portugal um ilustre prisioneiro, que assumiu publicamente que está numa condição política [o ex-primeiro-ministro José Sócrates], e nos acompanhamentos que temos estado a fazer não vimos nenhum alarido, nem sequer visitas dessa figura, para constatar ou verificar se esse prisioneiro que se diz político está nessa situação como tal", criticou.
O ministro acrescentou que a situação não causa "grande admiração nem preocupação" ao Governo angolano, porque são conhecidas essas figuras que "já num passado distante, antes mesmo da guerra tinham definido claramente o seu posicionamento e nunca esconderam o seu ódio visceral".
"Nós temos estado a ouvir alguns pronunciamentos de algumas figuras estrangeiras, mas são sempre as mesmas, podemos reparar que essas figuras internacionais, se quiserem ser assim chamadas, mesmo que o Governo um dia repetir simplesmente que dois mais dois é igual a quatro eles vão contestar por ser uma declaração vinda do Governo", ironizou.
O governante angolano reafirmou que se encontram detidos 15 jovens e a receberem tratamento "digno e humano".
"Não houve qualquer tipo de detenção posterior a essa, não houve por parte de entidades ligadas ao processo, nomeadamente a Procuradoria-Geral da República e o Ministério Público, e é falso que algumas pessoas estão à espera das suas residências serem objetos de buscas, são notícias que não são verdadeiras", frisou.
De acordo com informação enviada à Lusa pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de Angola, o grupo de 15 jovens ativistas – detidos desde 20 de junho – estaria a preparar, em Luanda, um atentado contra o Presidente e outros membros dos órgãos de soberania, num alegado golpe de Estado.
Os ativistas, estudantes e licenciados, foram distribuídos por estabelecimentos prisionais em Viana (4), Calomboloca (7) e Caquila (4), na região de Luanda, e ainda não têm qualquer acusação formada, decorrendo o processo de investigação.
Este caso tem sido alvo de interesse nacional e internacional, com vários pedidos públicos de organizações, artistas, escritores e ativistas para a sua libertação.
A polícia angolana reprimiu quarta-feira uma tentativa de manifestação em Luanda, de solidariedade com os 15 detidos, tendo-se realizado em Lisboa e em Berlim concentrações de solidariedade com aqueles ativistas.
Segundo a PGR, os detidos em prisão preventiva são Henrique Luati Beirão (conhecido como "Ikonoklasta"), Manuel "Nito Alves", Afonso Matias "Mbanza-Hamza", José Gomes Hata, Hitler Jessy Chivonde, Inocêncio António de Brito, Sedrick Domingos de Carvalho, Albano Evaristo Bingocabingo, Fernando António Tomás "Nicola", Nélson Dibango Mendes dos Santos, Arante Kivuvu Lopes, Nuno Álvaro Dala, Benedito Jeremias, Domingos José da Cruz e Osvaldo Caholo (tenente das Forças Armadas Angolanas).
Lusa/SOL