Demirtas afirmou que todos os Estados têm práticas “sujas”, mas que esta organização nem sequer está ligada ao Estado. “Foi esta organização especial Gládio (referência à Operação Gládio, conjunto de acções anticomunistas realizadas por um exército de retaguarda clandestino durante a Guerra Fria em vários países europeus) que conduziu o massacre de Suruc”, acusou Demirtas perante o seu grupo parlamentar, sem apresentar provas.
Menos explosivo, o mesmo dirigente político afirmou em entrevista à Reuters que Erdogan e o partido no poder, AKP, não estão interessados em combater o Estado Islâmico (EI), mas em castigar os curdos – a entrada do HDP no Parlamento retirou a maioria absoluta ao AKP e, com isso, tirou do horizonte a revisão constitucional sonhada por Erdogan para mudar o sistema político para presidencialista – e “impedir a formação de uma entidade curda no Norte da Síria”.
Ancara vê com preocupação o avanço dos curdos – em contraste com a forma impassível como lidaram durante meses com a passagem de jihadistas pelo território, ou pelo contrabando de petróleo que tem alimentado o EI.
Em visita à China, Erdogan classificou as acusações de Demirtas de “ordinárias” e “impertinentes”.
Se a primeira acusação é impossível de provar, já a segunda é. A partir do momento em que Ancara, em resposta ao atentado em Suruc, anunciou uma mudança de estratégia para defender a integridade territorial – chamando a NATO à pedra e permitindo que os Estados Unidos utilizem duas bases aéreas para atacarem o Estado Islâmico –, o maior número de ataques aéreos, de vítimas e de detenções têm como denominador comum os curdos. 85% dos detidos na última semana são curdos e esquerdistas e não militantes islamistas, lê-se no El País.
Também o número de mortos de militantes do PKK, o ilegalizado Partido dos Trabalhadores do Curdistão, rondará os 200, após dois ataques aéreos, avançava ontem o Hürriyet.
Estes ataques – “uma luta sincronizada contra o terrorismo”, segundo palavras do PM Davutoglu – surgem após o Governo ter suspenso as tréguas de dois anos e meio com aquela organização independentista, considerada terrorista por Ancara, Bruxelas e Washington.
O PKK também reagiu, tendo lançado vários ataques contra postos militares e policiais, bem como a um oleoduto.