Entre 12 e 15 de Maio de 2009, Cavaco Silva voou até Ancara para ser recebido pelo homólogo Abdullah Gül. Dias antes, no 1.º de Maio, a Praça Taksim em Istambul assistia a violentos confrontos entre manifestantes de esquerda e a Polícia. Ao diário Zaman, o PR português já tinha sublinhado: “Se queremos uma Europa mais forte no cenário internacional, que tenha uma palavra mais importante a dizer sobre paz, segurança e estabilidade, então a Europa precisa da Turquia”.
Cavaco, em exercício do primeiro mandato, encontrou-se também com o então primeiro-ministro Recep Erdogan – hoje PR.
Visita a Lisboa antes do Verão quente turco
O apoio luso à adesão turca à UE seria reiterado entre 6 e 8 de Maio de 2013, quando o mesmo Presidente Abdullah Gül visitou Portugal. Referindo-se a um processo com mais de uma década que deveria ser acelerado, o primeiro-ministro Passos Coelho declarou que “Portugal tem manifestado uma posição muito clara de apoio às negociações que visam tornar a Turquia membro da União Europeia, e está disponível para ajudar a reforçar este objectivo”.
Durante a visita de Abdullah Gül foi assinado (entre outros) um Acordo Quadro sobre Cooperação Militar. Na comitiva, Gül trouxe o então ministro dos Negócios Estrangeiros Ahmet Davutoglu, actual primeiro-ministro turco.
Dias após o encontro de Lisboa, a Turquia vivia um Verão quente de manifestações, iniciadas no final de Maio de 2013. Um rastilho do descontentamento acendeu-se no Parque Gezi, junto à Praça Taksim: planos de desenvolvimento imobiliário iriam ocupar a zona verde. Centenas começaram um protesto de defesa do parque público, que o então PM Erdogan optou por dispersar a canhões de água e gás lacrimogéneo.
Seguiram-se semanas de manifestações, espalhadas pelo país, contra o autoritarismo governamental. Da repressão, documentada pela imprensa internacional, resultaram milhares de feridos e mais de uma dezena de mortos.
A reputação da Turquia no palco político internacional sofreu um revés – tal como o processo de adesão turca à UE. A chanceler Angela Merkel deu o recado: “O que está a acontecer na Turquia não corresponde à nossa ideia de liberdade de protesto e de liberdade de expressão”.
A política luso-turca prosseguiu, com viagens de governantes dos dois países e a assinatura de acordos e protocolos em áreas como mar, indústrias de defesa e ciência e tecnologia. Em Março de 2015, teria lugar em Lisboa a I Cimeira Intergovernamental Portugal/Turquia, com os chefes de Governo – e novos documentos de cooperação firmados, em sectores como educação e economia.
As relações comerciais entre os dois países são, no entanto, ainda pouco relevantes. A Turquia é apenas o 17.º cliente das exportações nacionais, valendo 447 milhões de euros no ano passado. Os produtos mais vendidos à Turquia são papel e pasta de celulose. Lisboa importa sobretudo têxteis de Ancara e aparece como 23.º país com mais importância para o comércio externo da Turquia. No que diz respeito a fluxos de investimento entre os dois países, não há sequer estatísticas.