"Só posso dizer que estas notícias têm o condão de lançar uma suspeição, que na maior parte dos casos não é fundada. Não se trata de um caso de doping. O que se trata aqui é que há resultados de amostras de sangue de um número alargado de atletas que têm valores anormais, o que não quer dizer que atinjam os valores proibidos", disse Jorge Vieira, em declarações à agência Lusa.
Sobre a notícia do jornal britânico Sunday Times e da televisão alemã ARD, que revelaram ter recebido das mãos de um 'denunciante' os registos detalhados de 12.000 testes de sangue feitos a cinco mil atletas, dados que revelaram a presença de altos níveis de doping, principalmente nos atletas medalhados russos, o líder federativo diz que é importante clarificar "não são casos de doping", mas "casos próximos do limite, casos suspeitos".
"Isso fere muito a imagem do desporto e é algo que me revolta. Uma suposta investigação jornalística transforma-se numa notícia deste género e torna-se num escândalo", afirmou.
Jorge Vieira afirmou que o desporto "é a única atividade na sociedade em que há este controlo sistemático e cerrado, para evitar a dopagem, para que a competição seja limpa".
"O desporto é a área mais limpa que existe ao nível da sociedade. Não podemos tomar um todo por uma das partes, quando há um caso positivo ou um caso espetacular, como com o Lance Armstrong, em que o escândalo em que é envolvido um atleta se alarga a todo o desporto", referiu.
Jorge Vieira disse ainda ser "estranhíssimo" que a Agência Mundial de Antidopagem, que "tem o controlo e conhecimento destes resultados" não os tenha utilizado como casos de dopagem.
"Não os utilizou porque não são utilizáveis, porque não ultrapassam os limites definidos na lei. Mais uma vez afeta, de forma completamente gratuita, a imagem do desporto, da nossa modalidade como é óbvio, dos nossos atletas, que são sistematicamente controlados. É muito difícil para os batoteiros hoje em dia passarem os controlos", afirmou.
Jorge Vieira disse que há outras áreas, como a dança, a música e a outras formas de manifestações culturais, "onde há também muita competição e onde obviamente que haverá recursos a substâncias para eliminar a dor, resultado de lesões, de problemas no próprio corpo, a tratamentos".
Sobre os alegados casos suspeitos em Portugal, Jorge Vieira disse que o preocupam, mas que não houve casos positivos, fazendo uma analogia entre os "muitos atletas próximos de valores perigosos, mas que não ultrapassam os valores proibidos nos resultados das análises".
"Apenas se diz que são resultados suspeitos, em analogia, é o mesmo que nós termos conhecimento da velocidade máxima numa autoestrada ser de 120 km, mas vamos dizer que perigosamente há milhares de portugueses que são suspeitos porque andam a 100, a 110, ou a 115, e por isso estão próximos do limite. Como é óbvio a polícia não lhes faz nada, porque não passam os limites. No entanto, faz-se um grande escândalo porque há muitos automobilistas que andam a 110", afirmou.
Questionado sobre se o facto de esta notícia ter surgido a poucos meses das eleições na IAAF, numa altura em que inglês Sebastien Coe e o ucraniano Sergei Bubka concorrem à presidência, Jorge Vieira diz que já perdeu a inocência.
"Julgo que nada é inocente, todas as leituras são possíveis, infelizmente. Nomeadamente, quando o Sunday Times diz que houve atletas ingleses que já perderam medalhas e lugares de topo, devido a estes valores anormais. Por isso, nada disto é ingénuo, assim como as suspeitas sobre o grupo do treinador norte-americano Alberto Salazar, que tem um conjunto de atletas entre os quais o Mo Farah", lembrou.
No entanto, Jorge Vieira lembra que "já se apressaram a dizer que o Mo Farah não tem problema nenhum por ser um atleta britânico".
"Quando estamos perto dos jogos Olímpicos, perto das eleições da IAAF, com um candidato [Ucrânia], mais ligado a uma zona onde acontecem mais casos de doping e outro [inglês] que deve representar a 'pureza' do desporto", disse.
Lusa/SOL