Estará mais próximo da steak house que o dono afirma ter planeado de início com a bela carne (argentina, informa) que ali se serve. Segundo ele, a carne é «maturada, tenra e suculenta», e não há dúvida de que satisfaz: desde a chamada picanha (brasileira, mas apenas com batatas fritas, menos gloriosas, provavelmente congeladas) até ao ribeye (parte especial do lombo), passando pelos bifes, costeletas, medalhões etc.
Uma das coisas menos agradáveis (embora isto do gosto, como diziam os meus pais, ‘não se discute, educa-se’ – e daí a enorme pluralidade), na minha parca opinião, é a decoração. Um lambril de papel, a imitar tijolos, não funciona muito. Já a parte de cima do papel, com fotografias enormes, está melhor. As madeiras que associamos às brasseries francesas, os alegres champanhes, ao ostras, não se vêem. As mesas, bem atoalhadas de branco, parecem ser de madeira, mas escondida. A iluminação não anda mal. Os écrans de TV incomodam sempre numa casa deste tipo – embora talvez façam jeito em dias de grandes futeboladas. De resto, ambiente arejado e limpo.
O nome, embora com um significado concreto neste caso (ver caixa), foi tirado de um restaurante de Dublin.
Na comida, parece-me que sobressai aqui a lista dos peixes (e daí, certamente, a desistência do chefe e proprietário relativamente ao plano inicial de steak house): primeiro e mais saboroso, quase o ex-libris da casa, é o fricassé de gambas e vieiras. Mas há ainda outras propostas fortes: um belíssimo bife de atum com verduras, filete de robalo, bacalhau lascado com migas ou um orientalizado caril de gambas.
Mas comecemos pelo couvert: pão, manteiga, azeite, queijo de ovelha amanteigado e azeitonas. Depois a petiscada, talvez herdeira da Taberna 21 que ali funcionou, é variadíssima: carpaccio, presunto, paio, cogumelos, polvo, calamares, vieiras, gambas, rissóis, croquetes, pimentos del padrón, pica-paus (de frango ou novilho), pregos, etc.
Há também saladas, spaghetis e risottos. Entre as carnes, temos ainda o frango com madeira e o magret de pato.
Sobremesas boas, sobretudo as clássicas (mousse de chocolate e crème brúlée, ou frutas como abacaxi e manga, para além das da época).
Julgo que a lista de vinhos exigiria melhor selecção, nos diversos preços.
Embora essa cena não me tenha calhado, já que não a procurei, dizem que um dos aspectos mais cativantes da casa é a conversa com o seu proprietário – que vindo habituado a isso dos EUA, e sendo grande conversador, presta-se a isso com gosto e proveito.
Aventureiro e cozinheiro
Thomaz Marcarenhas, 71 anos, o chefe de cozinha que abriu a Brasserie Sixty 6, apresenta um currículo de aventureiro, além de cozinheiro.
Aos quatro anos partiu de Portugal para a Suíça (o nome ‘Sixty 6’ refere o número de anos que esteve ausente do País: 66), com uns pais emigrantes. Depois não terá havido história, até aparecer em Genève, a tirar um curso universitário de gestão hoteleira. Deixou este curso no último ano, para rumar a Paris, à prestigiada escola de cozinha Le Cordon Bleu.
Depois há todo um currículo impressionante, que inclui as cozinhas de Pompidou, Reagan, Kremlin, Pavarotti ou Conrad Hilton, de hotéis como o Waldorf Astoria ou o Georges V, de restaurantes seus em Nova Iorque, Dublin, Moscovo e em algumas cidades alemãs.
Naturalizou-se americano há 47 anos. Casou nove vezes (teoriza até sobre as mulheres, dando primazia às russas), tem sete filhos (a mais nova estaria à frente de restaurantes internacionais que mantém) e fala 10 idiomas. Aspectos deste currículo foram desmentidos por um meio de comunicação que tentou comprová-los. Mas é bom conversador, e gosta de encantar os clientes à mesa. Afirma, ufano, chegar a beber 40 cafés por dia.
Prepara a abertura de um segundo restaurante português, no Estoril.
Brasserie Sixty 6
Tv. Fábrica dos Pentes, 12/20, Lisboa, ao Jardim das Amoreiras
Tel: 21.387.02.30/ 911 728 161
Fecha ao domingo e segunda ao jantar
Não fumadores