Foi em 1992 que se escreveu no Se7e uma frase aplicada ao festival Citemor: «Que se interrompam as férias, que se pare o país» para assistir à programação. E não por acaso esta frase foi recuperada para a palestra de inauguração (e de reflexão) da 37.ª edição, que começa hoje a apresentar espectáculos. Há três anos que o Citemor continua a existir sem ter apoios financeiros e, por isso mesmo, aquilo que vai acontecer até sábado em Montemor-o-Velho apresenta-se como um manifesto de resistência que prefere ser um «gesto de esperança» em vez de um gesto de despedida.
«Num percurso tão longo, teremos cumprido papéis diferentes em vários momentos. Mas o que é particularmente relevante é a vocação produtora do festival, associado anualmente a quatro ou cinco novas obras e que consagrou Montemor-o-Novo como lugar de criação», explica Armando Valente, responsável pelo festival. Uma vocação que, apesar das dificuldades estruturais assumidas, o Citemor não quis deixar para trás.
Ainda que sejam «obras inacabadas e em processo de criação», que procuram mesmo assim oferecer uma antevisão do que vai ser a próxima temporada teatral, os espectadores podem contar com trabalhos de nomes relevantes e já familiarizados com o Citemor como o Teatro do Vestido (Bairro das Ex-Colónias), Tania Arias (The Horn of Plenty Dress), o Colectivo 84 com John Romão (Pasolini is Me) ou Raquel André numa apresentação de Colecção de Amantes, trabalho que vai levar ainda este ano ao Teatro D. Maria II.
Com partida marcada no Teatro Esther de Carvalho, os espectáculos são ao mesmo tempo percursos encadeados que se espalham pela vila. Percursos que o festival não quer que se percam. «Há uma enorme determinação em não aceitar o silenciamento, a extinção por decreto».