A investigação da jornalista britânica Wendy Holden retrata a vida de três mulheres, Priska Lowenbeinová e Anka Nathanová, da Checoslováquia, e Rachel Abramczyk, da Polónia, capturadas grávidas pelos nazis e enviadas para o complexo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, com os maridos, que não sobreviveram.
"A lição desta história é sorte e esperança. As três mães diriam que foi a sorte que as fez sobreviver. É evidente que tinham um motivo para tentar viver porque estavam grávidas, mas milhares de outras mulheres que também estavam grávidas não conseguiram sobreviver", disse à Lusa Wendy Holden, autora do livro lançado este mês em Portugal.
"Foi uma sorte terem sobrevivido a Auschwitz, foi uma sorte não terem contraído tifo, foi sorte não terem dormido sobre o gelo quando foram obrigadas à marcha forçada para a fábrica onde foram deslocadas na Alemanha em 1945". Disse.
Além disso, "foi sorte não terem morrido de fome, foi sorte não terem despertado a atenção de um qualquer guarda das SS que as espancasse até à morte. De todas as mulheres grávidas que cruzaram os portões de Auschwitz, estas são os únicos três casos de sobrevivência que encontramos", acrescenta.
As três mulheres, que não se conheciam, foram, como milhares, interrogadas diretamente por Joseph Mengele, conhecido como "o anjo da morte" e que selecionava os prisioneiros para experiências médicas.
As três mulheres conseguiram esconder a gravidez, tendo sido mais tarde enviadas para uma fábrica de componentes para aviões de guerra em Frieberg na Alemanha, no final da II Guerra Mundial (1939-1945).
O livro conta que Priska Lowenbeinova deu à luz Anna a 10 de abril de 1945 e que no dia seguinte os 16 mil trabalhadores forçados que estavam em Frieberg foram colocados em comboios com destino a Buchenwald para serem gaseados.
"Por isso, os nazis não lhe tiraram o bebé, porque no dia seguinte iam ser todos mortos. Priska escondeu o bebé dentro da roupa. A viagem de dois dias para Buchenwald transformou-se numa longa deslocação de 17 dias porque o campo tinha sido libertado e os nazis tiveram de tentar alcançar um outro campo onde pudesse ser possível desembarcar milhares de pessoas e depois matá-las", diz a investigadora.
"Sem comida ou água, os mortos eram atirados para fora do comboio", sublinha.
A 20 de abril, ao longo da mesma viagem, Rachel deu à luz Mark, no meio de uma tempestade de neve tendo os prisioneiros sido alimentados graças ao esforço de um ferroviário checo que conseguiu que a população alimentasse os prisioneiros, com pão, sopa e leite.
Os prisioneiros foram depois transportados para Mauthausen, na Áustria, onde Anka Nathanová deu à luz Eva "nos portões" do campo de concentração no dia 28 de abril.
Estava programado serem assassinados no dia 29, mas o gás tinha acabado. Hitler suicida-se um dia depois e a Alemanha capitula no dia 08 de maio.
O livro relata com detalhe a vida das três mulheres antes da guerra, os episódios de infância, os casamentos, o momento em que são presas – com poucos meses de gravidez – e as condições desumanas a que são sujeitas em Auschwitz e na fábrica de trabalho forçado na Alemanha.
Nenhuma delas conhecia as outras mães tendo sido Eva Clarke, filha de Anka, residente no Reino Unido depois da guerra quem relatou à jornalista a existência dos outros dois "bebés de Auschwitz".
"Tem muita relevância contar o que se passou porque hoje em dia, por todo o mundo as pessoas são perseguidas, assassinadas, deslocadas à força por causa da vontade de quem manda e da arrogância. Não nos esqueçamos que a escravidão está presente no nosso mundo atual. A todo o momento pessoas subjugam outras pessoas só porque pensam que têm o direito de o fazer e, por isso, nunca é tarde para fazer lembrar que isto é o que pode acontecer", conclui Wendy Holden.
O livro "Os Bebés de Auschwitz — nascidos para sobreviver" de Wendy Holden (Editora Vogais, 410 páginas) inclui mapas e uma série de fotografias dos locais e das mulheres biografados assim como dos respetivos filhos.
Lusa/SOL