Várias pessoas manifestaram-se hoje por iniciativa deste movimento de emigrantes e da Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercia (AIEPC), tendo percorrido a baixa de Lisboa desde a sede do Novo Banco na Avenida da Liberdade até ao Banco de Portugal, perto do Terreiro do Paço, com os emigrantes a considerarem "inadmissível" não receber a totalidade do dinheiro investido.
Fernando Rente, natural de Valpaços, emigrado em França, disse que "é inadmissível" receber apenas 90% do seu dinheiro: "Queremos o nosso dinheiro a 100%. O Banco de Portugal e o Presidente [da República] disseram que não havia problemas: aí os têm".
Já Maria Eugénia, natural da Guarda, emigrada em Paris (França), muito emocionada acusou as autoridades portuguesas de não serem honestas: "Portugal é um ladrão", desabafou.
Carlos, natural de Campo de Besteiros (Tondela), emigrado no Luxemburgo, adiantou que, com este tipo de situações, "Portugal não pode ir para a frente".
"O senhor Pedro Passos Coelho disse que os lesados não eram bem-vindos quando se foram manifestar a São Bento. Agora o senhor Ricciardi, o amigo dele, Dias Loureiro e o senhor Coimbra, de Campo de Besteiros eram bem-vindos", adiantou o emigrante do Luxemburgo.
Para Carlos, os emigrantes "é que são os prejudicados, que andaram uma vida inteira a trabalhar, a fazer as poupanças no estrangeiro, a tentar ajudar o país quando estava na crise e agora querem roubá-los. É esse o agradecimento que eles nos fazem".
Maria de Lamas, emigrante na Venezuela, disse à agência Lusa que se deslocou a Portugal a representar uma série de emigrantes daquele país para "defender as suas poupanças". Trajada com uma bandeira da Venezuela, a emigrante adiantou que estava a defender também as poupanças do pai, com 80 anos e que não se pode deslocar.
"Queremos o dinheiro do investimento no grupo GES", rematou.
"Aqui, como em Paris, todos unidos" — "Ici, come a Paris, tous unis" -, é uma das palavras de ordem dos emigrantes que se deslocaram hoje a Lisboa à procura de uma solução do Novo Banco para o dinheiro que investiram.
Os manifestantes, cerca de 500 pessoas, tentaram forçar a entrada no Novo Banco, mas as forças de segurança conseguiram suster a multidão. A PSP impediu que os manifestantes acedessem à Rua Barata Salgueiro, cortando esta via que, em anteriores iniciativas, era o local onde se concentravam os manifestantes.
No entanto, e apesar da presença das forças de segurança, os manifestantes conseguiram cortar a Avenida da Liberdade, junto à sede da instituição e desceram até ao Rossio, onde acercaram novamente uma dependência bancária do Novo Banco. Pelo meio, invadiram um balcão do Millennium BCP, nos Restauradores, em que os ânimos aqueceram quando racharam o vidro da dependência.
A manifestação ocorre três dias depois de o Banco de Portugal ter recebido uma das três propostas finais para a compra do Novo Banco revista. O Banco de Portugal esclareceu, no entanto, que, apesar de só uma ter sido revista, "as propostas vinculativas recebidas no dia 30 de junho continuam integralmente válidas, tendo sido entretanto objeto de clarificações no âmbito das discussões havidas com cada um dos três potenciais compradores".
Também na sexta-feira, o Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa admitiu uma providência cautelar interposta pela AIEPC, que exige que o Banco de Portugal informe o comprador do Novo Banco do montante de papel comercial devido aos cerca de 2.500 subscritores, que ronda os 530 milhões de euros, ou seja, que inclua esse montante como "uma imparidade" nas contas da instituição financeira.
São cerca de 2.500 os clientes do Novo Banco que adquiriram papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES) aos balcões do Banco Espírito Santo (BES) no montante total de 527 milhões de euros que ainda não foram reembolsados – não sendo ainda conhecida solução para este problema.
A AIEPC tem organizado ao longo dos últimos meses várias manifestações de protesto em várias cidades do país.
Lusa/SOL