Nas últimas eleições presidenciais alguns jornalistas perguntaram a Fernando Nogueira se confirmava o apoio a Fernando Nobre. A questão fazia todo o sentido, o presidente da AMI tinha a seu lado a mulher e os filhos do ex-braço-direito de Cavaco Silva; saber se Nogueira se passara para o outro lado da barricada não era um assunto de somenos importância. Mas nunca o ouvimos publicamente pronunciar uma palavra. Um membro do actual governo, amigo pessoal de Nogueira, explicou-nos: “Ele esteve sempre com Nobre, algo que o primeiro-ministro soube desde o primeiro momento, mas jamais faria uma declaração contra Cavaco. Nunca se arriscaria a que alguém lhe pudesse dizer que o tinha afrontado por vingança pessoal”.
É público e ficará para a pequena história da política que Cavaco retirou o tapete a Nogueira. A pequena traição do Presidente da República, na contabilidade entre o deve e o haver, é menos importante para a família Nogueira do que o seu excesso de frieza. “Impressiona muito o facto de em tantos anos de trabalho em comum, nunca Cavaco lhe tenha sequer perguntado se a mulher e os filhos estavam bem”, confessa-nos a mesma fonte.
A política também se faz de episódios íntimos. Muito do que acontece, e não acontece, se deve aos humores e tragédias dos protagonistas. Logo após a eleição de Passos Coelho, na escolha fracassada de Fernando Nobre para a presidência da Assembleia da República, o staff do primeiro-ministro reuniu-se depois do segundo chumbo dos deputados. No gabinete, o primeiro-ministro estava acompanhado por Miguel Relvas, pelo candidato e por outras pessoas próximas aos três. O ambiente era de cortar à faca. Passos recusava-se a desistir, Relvas reservara-se ao silêncio e foi Nobre quem colocou uma pedra no assunto. “Sr. primeiro-ministro, por mim chega, não me posso sujeitar a mais uma votação”. Nesses minutos dramáticos o candidato recebeu um sms de um deputado do PSD a dar conta de que Mota Amaral, que se comprometera a votar ‘Sim’ afinal, contra as expectativas, votara ‘Não’. Para o médico e ex-candidato presidencial fora a gota de água; recebera o velho senador um dia antes, contava com o seu compromisso, não o tivera no momento da verdade, era mais do que tempo de partir para não mais voltar.
Antes de sair propôs um nome, o de Assunção Esteves. Várias pessoas o ouviram, o primeiro-ministro acabaria por escolhê-la. Impossível de dizer se o primeiro-ministro já a tinha no seu plano B ou se aceitou a sugestão.
De uma maneira ou de outra Assunção Esteves assumiu a presidência. E há dois anos, vários eram os que apostavam que seria a candidata presidencial de Passos Coelho. Há quem não tenha deixado de acreditar nessa hipótese – até pela ausência do seu nome nas listas eleitorais –, mas são mais os que, partindo do mesmo pressuposto, chegam a uma conclusão oposta, a de que a sua passagem pela liderança do Parlamento teve aspectos menos positivos que levaram o primeiro-ministro a prescindir da sua presença.
Sempre uma questão de perspectiva. Barrigana, antigo e mítico guarda-redes do FC. Porto, depois de ter ido a Paris pela primeira vez, na década de 1950, respondeu com candura e objectividade à curiosidade dos jornalistas junto das antigas Antas: “Torre Eiffel? Claro que a vi. E gostei, não posso dizer que não gostei. Mas não se compara aos Clérigos!”.
Uma história que é uma passagem para um dos episódios da semana, o casamento público de Jorge Mendes. Centenas de convidados, várias celebridades por metro quadrado, ruas cortadas e Jorge Nuno Pinto da Costa a chegar à festa acompanhado de Miguel Relvas. As imagens televisivas registaram o momento, várias legendas de revistas e jornais de referências questionaram-se sobre o insólito momento, pairaram perguntas sem resposta. Seriam parceiros de negócio? A resposta é não. Um amigo comum dos dois desfaz-nos dúvidas e até inquietações, são amigos. Recentes, mas amigos. Conheceram-se num jantar em 2012, um dia depois de o Benfica ter perdido na Luz com um golo de Maicon, o do golo em fora-de-jogo. Nesse jantar esteve também Fernando Seara e Judite de Sousa e diz-se que não poderia ter sido mais divertido. Relvas era ministro e tinha a pasta do desporto. Nos anos a seguir, quando todos lhe pareceram virar as costas, Pinto da Costa fez o que o ex-ministro nunca mais esquecerá, esteve presente.