“Quando encontras alguém que te interessa no ecrã, deslizas sobre a foto para a direita e, se a pessoa também gostar de ti, há um ‘match’. Abre-se então uma janela de chat onde se pode conversar, conhecer-se melhor e perceber se faz, de facto, sentido continuar”. A descrição é feita por Cristina, de 33 anos que, em Janeiro, aderiu à mais recente forma de tentar encontrar a companhia perfeita. Chama-se Tinder, é uma aplicação para dispositivos móveis e está a tornar-se um dos mais badalados sites de encontros – há quem procure o seu ‘príncipe’ e quem queira apenas um relacionamento mais “ocasional”.
“É como um catálogo, que vais passando até encontrar um rapaz que te agrada”, pormenoriza Cristina, que vive na zona da Grande Lisboa e descobriu o Tinder através de uma amiga. “É extremamente difícil conhecer pessoas novas fora do nosso círculo, do dia-a-dia, foi por isso que me inscrevi. Mas o Tinder requer tanta atenção para ver as mensagens, para estar a par, que perdes imensas horas!”, diz. Foi, afinal, por mera “curiosidade” que tudo começou: “Todos falavam nisso e pensei: ‘Não vou morrer burra’”.
A aplicação (app) recolhe os dados e interesses da pessoa – colocados na sua página pessoal do Facebook – , e faz uma busca por aproximação de possíveis companheiros compatíveis no raio de vários quilómetros (que podem variar consoante o local em que se está, partindo da localização geográfica do utilizador e do raio de busca escolhido pelo próprio). Quando se muda de local, os possíveis companheiros apresentados mudam também.
A verdade é que o Tinder está a tornar-se um caso de sucesso em Portugal onde começou a circular há cerca de um ano. Em todo o mundo, são feitos, segundo fonte da empresa, 26 milhões de ‘matches’ (combinações em tradução literal, que podem chegar aos encontros) por dia e "mais de 8 mil milhões de no total" – e, se estes são virtuais, a verdade é que chegam a tornar-se histórias de amor reais. Em Portugal.
‘Azeiteiros’ e… homens ideais
A aplicação de dating – que “está a substituir os bares de engate”, como diz Teresa, de 38 anos, que experimentou todo um mundo novo nesta rede social há cerca de três meses, instigada por uma amiga – é um êxito. Não há números oficiais de utilizadores portugueses, porque o Tinder funciona precisamente como uma rede rápida – permanece-se o tempo que se quer e sai-se com a mesma facilidade.
E foi precisamente o que fez Teresa, residente numa cidade do Norte do país: saiu da conta do Tinder – que, como acontece no Facebook, pode recuperar a qualquer momento -, após começar a namorar com um rapaz que conheceu… precisamente através desta app. “Tive quatro encontros através do Tinder. De dois não gostei e não voltei a vê-los, do outro senti que podia resultar daí uma amizade. Ou seja, não houve química mas era um rapaz de quem poderia tornar-me facilmente amiga e foi estranho, porque voltei a encontrá-lo ao vivo noutras ocasiões e nunca o abordei. Há assim uma espécie de embaraço das pessoas que frequentam o Tinder, como se houvesse algo de errado em estar ali”.
Mas esse não foi o motivo pelo qual saiu da app “viciante” em que se manteve desde Maio. “Conheci um rapaz da América Latina que estava cá em trabalho e começámos a gostar um do outro”. Estava em Portugal de passagem, conta ainda a utilizadora: “E é uma tragédia amorosa: daqui a uma semana, ele tem de voltar para o seu país por uma questão de trabalho”. Apesar deste percalço, Teresa pondera voltar à aplicação: “Porque não?”, ri. O único problema que vê é o facto de “a ‘galeria’ ter demasiados azeiteiros: 90% são surfistas, homens com carro ou mota e com animais a lamber-lhes a cara. É deprimente”.
Para evitar decepções, os especialistas aconselham a combinar, antes de mais, apenas um café. “Quando se combina logo jantar e se percebe, passados dez minutos, que aquela pessoa não interessa e não corresponde à imagem construída virtualmente, é difícil aguentar toda a refeição”, comenta a psicóloga social Luísa Lima, do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL).
Portuguesas criam ‘demasiadas expectativas’
A palavra sobre a app vai passando de boca em boca e granjeando adeptos de ambos os sexos. Isto apesar de as portuguesas ainda serem vistas como “demasiado conservadoras” e as expectativas sobre os encontros serem, por vezes, diferentes entre homens e mulheres: “Elas procuram muito o príncipe encantado,. Encontram-se mulheres muito carentes e, às vezes, é mais difícil de desligar do que pareceria à partida. Há muita solidão”, confessa João, de 43 anos, acrescentando que tem “mais saída” com brasileiras. Foi, aliás, durante uma estada no Brasil, que um amigo lhe falou na app, há quase três anos, ou seja, quando o Tinder apareceu.
João experimentou o Tinder quando tentava recompor-se de um desgosto amoroso, há cerca de três anos, quando foi o Tinder tinha acabo de ser lançado. E foi a aplicação que lhe mudou os humores. A sua experiência teria porém um desfecho inesperado: “Tive bastante saída naquela altura. Infelizmente, o meu amigo acabou por encontrar a minha ex, muito tempo depois, no Tinder. E chegaram a encontrar-se”.
Hoje, já em Portugal, mantém a conta activa no telemóvel, mais para ver “o que acontece”. Mas considera as portuguesas “fechadas”: “É mais fácil com as estrangeiras, são mais desprendidas, mais práticas”.
Nuno, que vive numa pequena cidade do interior do país, também mantém a conta no Tinder apesar de ter um relacionamento. “Já passei bons momentos com umas miúdas que conheci no Tinder”, conta. Não foi assim que descobriu a actual namorada. Mas não vê motivos para apagar a conta: “O Tinder não é só para sexo, serve para conversar, para conhecer pessoas, para marcar cafés. É giro”.
A verdade é que os relacionamentos gerados através desta aplicação entre os utilizadores com que o SOL falou não duraram muito tempo. “As últimas cinco mulheres com quem me relacionei, conheci-as através do Tinder e nunca estive com nenhuma mais de um mês”, conta Alexandra. Não é que vá desistir. Ainda não encontrou o amor da sua vida mas não perdeu a esperança: “Acredito que sim, é possível encontrá-lo assim”.