Uma cervejaria contemporânea à Bairro Alto

Com toda a decoração pensada para fazer o cliente sentir o mar, a Cervejaria do Bairro não desilude – nem na mariscada fresca nem nas carnes barrosãs.

Fica no coração do Bairro Alto, e é uma cervejaria muito tipo Bairro Alto, se assim podemos chamar a um género que por ali se tem imposto, desde que Manuel Reis lá fez brilhar o revivalismo da decoração modernista e o intelectualizou em 1982 com a abertura do célebre Frágil (boîte ainda assim discreta, comparada com a sua sucessora Lux, em Santa Apolónia, embora apresentasse já um estilo bastante abarrocado, entre os encarniçados e os doirados). Claro que os antigos modernismos decorativos desaguaram no vintage, que caracterizava mais o local na época em que era o bar-boîte Bedroom (ver texto junto), ou o clean relativamente minimalista que este restaurante hoje ostenta.

Estamos, enfim, no Bairro Alto boémio, interclassista e pejado de turismo.

É bom visitar agora no Verão a Cervejaria do Bairro (inaugurada em Outubro de 2014), em que a banca do peixe está logo à porta, muito convidativa. Há ali normalmente um chamativo peixe grande (por exemplo, uma corvina), rodeado de tentadores mariscos, tudo com ar fresquíssimo.

Mas toda a decoração foi pensada para nos levar a sentir o mar (com excepção do animal embalsamado no bar): as paredes verdes, os quadros (apenas dois) com motivos marítimos, até os candeeiros vintage a lembrarem peças de um submarino antigo. A luz pretende ser intimista. E o balcão, num nível superior (não é bem um andar de cima, mas há algumas escadas para lá chegar), também pretende acolher pequenas tertúlias, ou servir simplesmente de bar. Aí, por não haver mesas, brilha mais o chão de madeira.

Comecemos por salientar já a simpatia do serviço, como acontece nos outros restaurantes do mesmo proprietário (e que não é um dado nada adquirido em Lisboa). A cozinha, idealizada por Duarte Uva, funciona com a dupla de chefes Miguel e Vasco Palma, que já passaram pelo Hotel da Lapa, pelo Meridien, o Vírgula e o Bocca, o que garante grande qualidade culinária, rapidamente confirmada.

Se o ambiente não lembra imediatamente uma cervejaria, a lista sim. Nas entradas, além do couvert simpático (pão, azeite e umas bolas de queijo de cabra bem agradáveis), surgem bem aprovados os croquetes e, por exemplo, as amêijoas à Bulhão Pato.

A mariscada fresca é boa e variada: percebes, camarões, ostras, etc. Os carabineiros com arroz branco já fazem um prato. Como o bife de atum devidamente mal passado, o bacalhau, o ceviche de corvina ou o peixe fresco do dia. As carnes são igualmente boas, falando-se em vacas barrosãs: dão belíssimos bifes do lombo ou entrecôtes.

E, como em qualquer cervejaria, quem quiser pode ficar pelos mariscos, e rematar com um prego de lombo de vaca ou de atum com cebolada.

A lista de vinhos, pelo menos de Verão, pareceu ter uma selecção aceitável, e o vinho a copo bebia-se bem.

Tudo a recomendar uma visita a este novo conceito de cervejaria. 

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