Dito isto, o que foi muito interessante foi assistir ao programa de debate entre António Vitorino e o ex-Primeiro-Ministro entre Julho de 2004 e Fevereiro de 2005, Santana Lopes. Cerca de dois terços da duração do programa foi dedicado ao tema das presidenciais, falando-se muito pouco do facto que gerou a discussão em torno das presidenciais (o lançamento da candidatura de Maria de Belém) e muito sobre a possibilidade da candidatura do Professor Marcelo Rebelo de Sousa. Percebe-se esta postura de ofensiva contra Marcelo Rebelo de Sousa, quer por parte de António Vitorino, quer de Santana Lopes.
Comecemos por António Vitorino, que é o caso mais elementar. António Vitorino é uma raposa política, que segue os seus interesses políticos (e, dizem alguns, pessoais, com ou sem razão) muito inteligentemente, sempre sob uma aura de respeitabilidade, de sapiência e de sagacidade à prova de qualquer suspeita. Percebendo que Santana Lopes iria aproveitar o espaço para fazer “tiro ao Marcelo”, António Vitorino – que, tal como António Costa, foi orientando de Mestrado de Marcelo Rebelo de Sousa, tendo Vitorino mesmo prometido a Marcelo concluir o seu doutoramento, algo que iniciou, mas não conseguiu terminar – decidiu “surfar” a mesma onda. E fez bem, na óptica dos seus interesses políticos egoísticos. Porquê? Porque Vitorino sabe que tem dois candidatos da sua área política fracos, incapazes de, num cenário de bipolarização da contenda eleitoral, impedir a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa.
António Vitorino tem perfeita noção de que Marcelo Rebelo de Sousa é um caso ímpar de popularidade, de estima e de admiração entre os cidadãos portugueses. Porque Marcelo Rebelo de Sousa é um político singular, contra o qual será muito difícil fazer campanha. Portanto, António Vitorino – que quer que o PS ganha o pleno com uma vitória nas legislativas e uma vitória nas presidenciais, para mudar completamente o centro de poder – vai fazer tudo para, semanalmente, moer a candidatura potencial de Marcelo Rebelo de Sousa.
Passemos, de seguida, ao caso de Santana Lopes. Enfim,…o que se pode dizer de Santana Lopes, para além de tudo o que dissemos? Já sabemos que Lopes quer fazer um ajuste de contas com o passado: a derrota pesadíssima que teve em 2004 contra José Sócrates ainda não foi, no seu íntimo, ultrapassada. Já sabemos que Santana Lopes não abandona a política por nada – vai ser candidato a alguma coisa. A Belém, a São Bento, à liderança do partido, à Câmara Municipal de Lisboa, se for necessário, será candidato até à Câmara Municipal da Figueira da Foz novamente – mas Santana Lopes tem uma necessidade biológica de ser candidato a algo. Santana Lopes vive da política. É a sua vida.
Na terça-feira, Santana Lopes foi, mais uma vez muito, engraçado. Depois de enunciar uma plêiade de ideias feitas sobre a natureza e a extensão dos poderes presidenciais, tem esta tirada deliciosa: “Se eu, ou o António Vitorino, viermos para aqui dar os parabéns à Tia Joaquina da Mouraria e se trouxermos o presente da terrinha à apresentadora, seremos os mais populares de Portugal”. Todos sabemos que se tratou de uma crítica (dura e mesquinha) a alguém. A quem? O leitor certamente já encontrou a resposta: ao próprio…Pedro Santana Lopes!
O nosso leitor certamente se lembrará de Pedro Santana Lopes, no programa “Contracorrente” emitido na SIC, em que aparecia como Primeiro-Ministro a brincar! Já na década de 90, Santana era um líder político…a brincar! Talvez por isso, em 2004, uma vez empossado Primeiro-Ministro, pensou que ainda estava a brincar – e deu mau resultado! Não houve prendinha da terrinha, nem avó Joaquina que o salvasse.
Mas mais: a TVI, em 2008, deu a oportunidade a Pedro Santana Lopes de brilhar na televisão, tendo o tal espaço que ele tanto reclama para dar uns beijinhos televisivos à avó Joaquina. Em prime-time ao sábado. Resultado: as audiências foram um flop monumental, levando à suspensão do formato por parte da direcção da TVI! E o resto da história já é conhecida: Lopes foi relegado para o cabo, depois passou para a CMTV, até Balsemão o ir buscar para a SIC Notícias (já tendo em vista as presidenciais). Como facilmente concluímos, a avó Joaquina não salvou Santana Lopes. Não é a falta da avó Joaquina o problema de Santana. São outros. Muitos outros.
Por último, Santana Lopes regressou ao seu registo de levar para o estúdio televisivo recortes das suas intervenções – e dos seus adversários – passadas (não se percebe a utilidades, mas enfim…coisas à Lopes!). Então, Santana foi buscar uns recortes de jornais em que dizia que as presidenciais seriam resolvidas à segunda-volta, pelo que deveriam surgir vários candidatos à direita, incluindo o próprio; e recortes de Marcelo Rebelo de Sousa em que o Professor dava a entender que o melhor era aparecer apenas um candidato do espaço de centro-direita. Com ar imperial, Santana pediu, no final, ética na política.
Ora, ouvir Santana a pedir ética na política já é um facto, por si só, caricato. Um facto estranho. Agora, Santana acusar Marcelo de incoerência política é de um descaramento atroz! Porquê?
Porque enquanto as declarações de Marcelo nada têm de contraditório (explicaremos, em detalhe, em próximo texto porquê), as de Santana são de uma incoerência a toda a linha. Recordemos a estratégia de Santana:
Primeiro, segundo Santana, o candidato presidencial da direita teria de aparecer até Março deste ano; depois, Santana mudou, e afinal, disse que a questão só se colocaria a partir de Outubro;
Segundo, Santana afirmou que o partido deveria estar centrado nas legislativas – e não nas presidenciais. Ao mesmo tempo, Santana pediu a um grupo de presidentes de Câmara que reunisse assinaturas e apoios à sua candidatura presidencial. Mas, quando Santana percebeu que o único Presidente de Câmara que tinha seguro era o do Fundão, Santana recuou – afinal, não iria avançar antes das legislativas! Não haverá maior cúmulo da incoerência política?
Terceiro, Santana, depois de tantas cambalhotas estratégicas, decidiu fixar o mês de Outubro, como o mês decisivo para o lançamento de candidaturas presidenciais. Na semana passada, porém, Santana já virou o bico ao prego outra vez: afinal, pode apresentar a sua candidatura até…dezembro!
Perante tudo isto, como ficamos? Por amor de Deus, Pedro Santana Lopes, tanta incoerência e ziguezague político já cansa! Falta ética na política, Pedro! E que tal, em vez de falar, falar, falar, Pedro Santana Lopes começasse a praticar o que tanto proclama? Ética na Política…