Fundão rima com Verão

À primeira vista, o que denuncia a diferença entre o final de Agosto no Fundão do resto do país é a existência de um palco montado. As outras coisas – as noites quentes, as esplanadas, o largo da igreja ou a tranquilidade – são iguais. Pelo menos até esta sexta-feira, o dia em que arranca…

“O TeatroAgosto é uma janela para veicularmos a ideia de teatro que defendemos, um teatro que funciona para uma comunidade, para uma população”, explica Nuno Pino Custódio, director artístico do festival e responsável pela Estação Teatral, a companhia de teatro do Fundão que há 11 anos prepara esta programação de final de Agosto.

Existir enquanto festival de Verão não é apenas uma questão de calendário. É sobretudo uma questão de conteúdo: “Apesar de haver uma grande falta de oferta, procuramos convidar companhias que se relacionem com um contexto ao ar livre, que é cheio de especificidades. Mesmo sem dispensarem o texto ou o pensamento, estamos a falar de espectáculos mais virados para a vertente visual, com gestos, movimento, acção”.

É por essa via que se destacam as visitas ao Fundão da Companhia do Chapitô, com Édipo (dia 28), “um regresso muito marcante para a população, que não esqueceu a passagem deles há uns anos com O Grande Criador”; da companhia espanhola Yllana, com Splash (29); a presença moçambicana de Clemente Tsamba com Nos Tempos de Gungunhana (23); a criação da própria Estação Teatral, A Entrada do Rei (24); ou o encerramento no dia 30 com o teatro-concerto de Os Irmãos Machado.

Além do já referido palco, há apresentações que acontecem pelas ruas e largos. E além do teatro, há também concertos, ciclos de contadores de histórias e até filmes. “Numa cidade com oito mil habitantes, o habitual é os espectáculos estarem esgotados todos os dias”. Um envolvimento que, no entender de Nuno Pino Custódio, justifica que “num país cada vez mais assimétrico, este continue a ser um projecto de resistência”.