Donald Trump: o próximo Presidente dos EUA?

1. Não! Nem pensar. Donald Trump não ganhará a eleição para se tornar no líder do mundo livre. Temos, aliás, sérias dúvidas de que Donald Trump seja capaz de assegurar a nomeação republicana para defrontar Hillary Clinton. Bem poderão contra-argumentar invocando as várias sondagens que atribuem a Trump a maioria das preferências entre os candidatos…

2. Donald Trump é apenas um epifenómeno político: uma candidatura que tanto sobe vertiginosamente, alcançando o primeiro lugar nas preferências do eleitorado de direita (e mesmo no eleitorado nacional: no confronto com Hillary Clinton, Donald Trump tem estado seguro) – como desce vertiginosamente num ápice. Quando é que Trump começará a cair nas sondagens e perderá força política? Em momento cirúrgico, a direita americana – isto é, os sectores ligados ao Partido Republicano – agirá com racionalidade e com vontade de vencer as Presidenciais de 2016, evitando a eleição de Hillary Clinton.

3. Será uma eleição muito relevante para o GOP, na medida em que uma eventual derrota irá acicatar as divisões internas dentro do partido; será um indicador claro da desadequação da sua mensagem político-ideológica numa sociedade americana em mudança; abrirá espaço para o surgimento de outros movimentos político-partidários (porventura, até com epicentro estadual) que poderão colocar em causa a rigidez do bipartidarismo americano, tendentes a preencher o vazio do espaço político da direita. Ao invés, para os democratas, a vitória, após dois mandatos do Presidente democrata ainda no exercício das suas funções Barack Obama, significaria um sinal claro de vitalidade e força política. Os Democratas passariam a controlar o processo de ajustamento político da sociedade americana em mudança, projectando o futuro dos Estados Unidos da América por muitas décadas. O GOP teria de se ajustar à sociedade política gizada pelos democratas, sob pena de descolar da História.

4. Não por acaso, a vitória de Hillary Clinton entraria, de imediato, para os livros da História política dos Estados Unidos: um terceiro mandato democrata é algo que não se verifica desde o terceiro mandato de Franklin Delano Roosevelt (um precedente que infringiu, sob a alegação de razões ponderosas da situação política pós-Segunda Guerra Mundial, o costume constitucional de que o Presidente só poderá ser reeleito uma vez) e só ocorreu por duas vezes na história constitucional do país (para além de Roosevelt, quando Martin Van Duren substituiu o Presidente Andrew Jackson, em 1838.

5. Ora, a nomeação de Donald Trump significaria a derrota certa dos Republicanos – e a vitória esmagadora de Hillary Clinton. Há quatro razões para afirmar, sem dúvidas, que Donald Trump, utilizando a expressão de Paulo Portas, “está nem aí “ em se tornar Presidente dos Estados Unidos. Razões de ordem subjectiva e razões de ordem objectiva.

6. Duas razões de ordem subjectiva – por um lado, Donald Trump já alcançou o que queria: atenções dos principais órgãos de comunicação social de referência americanos e internacionais; condicionar a estratégia dos restantes candidatos do GOP; exibir o poder pelo poder, em especial, o seu poder financeiro que ajudou políticos de todos os quadrantes (Trump financiou algumas das campanhas dos seus contendores). Por outro, Donald  Trump tem noção dos seus limites – prefere fazer dinheiro com os seus negócios na área do imobiliário e presenças televisivas e manter-se como “franco-atirador” contra o próximo Presidente dos EUA do que assumir as responsabilidades inerentes ao cargo político mais poderoso do mundo.

7. E duas razões de ordem objectiva: primeiro, os financiadores da sua campanha começarão a retirar o apoio e novos financiadores não surgirão (as pressões para cessar o financiamento a Trump serão múltiplas e vindas de muitos lados), o que levaria a que Trump, se quisesse protagonizar uma candidatura desligada do GOP, teria de custear a campanha do seu próprio bolso (cenário que não é credível); segundo, os eleitores, na hora do voto, não votarão em Trump. Conforme recordou Karl Rove, sempre que Donald Trump surge como candidato, nos primeiros meses, lidera as sondagens – a partir do caucus no Iowa, dois ou três candidatos se impõem e Donald é afastado da corrida.

8. Duas últimas notas adicionais: ao contrário do que se afirma, a estratégia de Donald Trump é aparentar não ter estratégia – todas aquelas afirmações bombásticas são pensadas ao pormenor para chocar. Trump é um homem do showbiz (não podemos esquecer este pormenor). E Hillary Clinton poderá não ser a maior beneficiária do epifenómeno Donald Trump: os republicanos moderados, como Scott Walker e Jeb Bush poderão ser quem mais factura com os dislates do homem com o cabelo mais famosos dos Estados Unidos da América. É que Donald Trump já produziu o efeito de “secar” o Tea Party, deslocando o discurso do GOP para o centro.

9. A corrida, no lado do GOP, é , pois, entre Scott Walker (Governador do  estado do Wisconsin) e Jeb Bush.