Para Hillary Clinton, a provável candidata do partido Democrático, este é o tema prioritário. E propõe medidas, como incentivar a participação dos trabalhadores nos lucros das empresas. Embora haja empresas, como a Google, que adoptaram esta ideia, que é antiga (o general de Gaulle defendia-a), ela teve escassa concretização até hoje.
Do lado dos Republicanos, Jeb Bush, irmão de George W. Bush, aposta na aceleração do crescimento económico para melhorar a situação da classe média americana – uma subida do PIB à volta de 4%, contra os actuais 2,5%. Só que o ritmo de subida do PIB não é algo que se possa decretar.
Um outro pretendente Republicano à candidatura presidencial, o senador Marco Rubio (de ascendência cubana), quer atingir o mesmo objectivo aumentando a produtividade por hora de trabalho. O que implicaria um grande esforço na área da educação e da formação profissional.
Mas esta proposta esbarra num facto: desde 1970 a produtividade mais do que duplicou na economia dos EUA, enquanto o salário médio subiu apenas 11%. Aliás, o actual rendimento mediano das famílias americanas é inferior, em termos reais (isto é, descontando a inflação) ao de 1989. Em grande parte por causa da redução do rendimento familiar aumentou o número de mulheres trabalhadoras.
O problema não se restringe aos EUA. No Japão o primeiro-ministro pressiona as empresas para subirem os salários dos seus trabalhadores. Na Grã-Bretanha os salários reais desceram todos os anos entre 2009 e 2014. Na Alemanha os salários estão hoje, em média, abaixo do nível de 2008. A parte do trabalho no PIB tem vindo a cair nos países desenvolvidos, subindo a parte do capital.
Em Portugal, como é natural num processo de ajustamento, os salários desceram com o programa da troika, embora menos do que preconizavam alguns (como Paul Krugman). Com críticas do FMI, o salário mínimo subiu 20 euros em 2014 para 505 euros, após quatro anos de estagnação; manteve-se abaixo do salário mínimo em Espanha e na Grécia, mas acima do praticado na Polónia.
Muitos factores são apontados para a estagnação salarial, desde a forte quebra nos filiados em sindicatos até à globalização (nos sectores que concorrem com bens e serviços provenientes de países com baixíssimos salários), passando pela causa porventura mais importante: a importância crescente de saber lidar com a informática, algo difícil de conseguir para trabalhadores menos jovens. E deve apontar-se, ainda, a política fiscal favorável aos ricos, seguida sobretudo nos EUA.
A estagnação salarial nos países desenvolvidos (na China os salários sobem) é um problema político de primeira grandeza, após muitas décadas durante as quais a maioria das pessoas se habituou a melhorar todos os anos de nível de vida. E é também um problema económico: a procura no mercado ressente-se dessa estagnação, travando o crescimento económico.