2. Pois bem, comecemos pela entrevista. Antes de mais, uma nota sobre a forma: António Costa mantém a sua linha de discurso informal, de arrogância para com os jornalistas, de muita altivez e pouco sentido de Estado. Alguém que ambiciona ser Primeiro-Ministro dentro de poucas semanas não pode referir-se ao cenário de coligação com o principal partido português – o PSD- utilizando expressões como “só no caso de uma invasão de marcianos”. Perguntamos: António quer ser Primeiro-Ministro de Portugal – ou quer ser líder do recreio do jardim escola? E como compreender que António Costa, perante uma questão dos jornalistas, se vire para o entrevistado e responda simplesmente: “responda-me você”. Tudo isto é muito mau. Demasiado mau.
3. Para tamanha displicência de António Costa só há uma explicação: Costa convenceu-se que os portugueses são todos marcianos. Ou seja, para António Costa, os portugueses vivem noutro planeta quanto a matérias políticas – e, logo, o natural é Passos Coelho perder e ele ganhar as eleições, faça o que quiser. Não vale a pena esforçar-se excessivamente: a vitória chegará, com maior ou menor dificuldade. Contudo, os portugueses merecem mais respeito – e, ao contrário do que António Costa, os portugueses são muito sábios em matérias de política. Os portugueses sabem muito bem o que querem e para onde vão – e sabem muito bem que não querem António Costa e não vão pelo caminho do socialismo irresponsável que é o caminho do PS de Costa!
4. No entanto, a frase que ficou foi a manchete do SOL: Costa revelou que tem uma grande afinidade de pensamento com Manuela Ferreira Leite. Ficámos banzados com tamanha hipocrisia política! Será que para António Costa, vale tudo na política? António Costa não olha a meios para ganhar eleições?
5. É que António Costa foi um dos mais acérrimos críticos de Manuela Ferreira Leite quando esta exerceu as funções de Ministra das Finanças no Governo liderado por José Manuel Barroso (na altura ainda na sua incarnação de Durão Barroso). Mais: António Costa disse de Manuela Ferreira Leite (recorde-se que Ferreira Leite é autora da célebre frase: “ é preciso apertar o cinto” que se iniciou o nosso longo calvário de austeridade) o que Diabo não diz de Deus! Quando Ferreira Leite aumentou os impostos, foi implacável na aplicação do PEC (Pagamento Especial por Conta) e era o rosto da austeridade – António Costa, então líder parlamentar do PS, sendo Ferro Rodrigues o líder do partido, atacava ferozmente a Ministra das Finanças. Ferreira Leite era, então, par Costa, o rosto da insensibilidade social! Treze anos depois, o mundo mudou! António Costa não se importaria de ter como sua Ministra das Finanças a mesma Ministra que ele combateu ferozmente. Vale tudo para ganhar votos?
6. Depois, António Costa, braço-direito de José Sócrates em 2009, urdiu uma campanha de ataque ad hominem (ou, neste caso, ad mulierem) contra Manuela Ferreira Leite, então líder do PSD. Relembramos alguns dos adjectivos mais suaves usados pelo braço-direito de José Sócrates, António Costa: conservadora; bota-de-elástico; anti-democrática; radical de direita. Passaram seis anos: agora, António Costa já admite convidar Manuela Ferreira Leite para o seu Governo! Vale tudo para ganhar mais uns votos, António Costa? Como poderá a Política ser valorizar se os próprios políticos a descredibilizam todos os dias? António Costa mostra uma errância de pensamento que assusta. Costa não é confiável.
7. Agora, António Costa veio prometer aos portugueses a conquista de novas Índias e novos Brasis. O inspirador desta ideia deve ter sido o mesmo dos maravilhosos cartazes do “tempo de mudança”. A referência a Índia talvez tenha que ver com a boa imprensa de que António Costa goza na Índia. Só pode ser!
Por outro lado, António Costa reconhece indirectamente a incompetência e o fracasso dos sucessivos governos socialistas desde 1974. É que para inspirar os portugueses, António Costa tem de recuar aos anos de 1498 e 1500!
8. Então a referência à descoberta de novas Índias e Brasis não é um incentivo à emigração, que o PS tanto critica? É que foi precisamente aí que os portugueses iniciaram o processo da globalização. Que novas Índias e Brasis são esses que António Costa promete? Estimular os jovens a estudar fora, a trabalhar fora, a adquirir experiência fora, não pode ser, pois isso seria um incentivo à emigração. Estimular a internacionalização da economia portuguesa não pode ser, porque o PS defende que o estímulo adequado para a nossa economia é o consumo interno e suspeita do investimento estrangeiro, quer seja angolano, brasileiro ou americano.
9. Aguardemos, então, pela resposta de António Costa. Se António Costa não a der, e continuar a cometer erros todos os dias, honestamente não sabemos por que razão ainda continua como líder do PS. Será que seremos os únicos a surpreender-nos com a hipocrisia política de Costa? Será que, utilizando o título do livro de Nuno Galopim, os marcianos de António Costa somos nós?
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