“Partidos nacionais que formam alianças titubeantes dentro de uma Europa que funciona como um bloco é uma coisa do passado. Esse modelo já não funciona. Acho que devíamos tentar formar uma rede europeia que, a dado ponto, evolua para um partido Pan-Europeu”, afirmou o ex-ministro das Finanças grego à ABC.
Varoufakis, que deixou o governo Syriza depois de um bloqueio nas negociações com Bruxelas para uma solução para a dívida grega, tem sido apontado como um dos responsáveis por um plano que envolveria a saída do euro, com a emissão de dracmas, e previa a prisão do governador do banco central grego caso ele resistisse à aplicação destas medidas.
O ex-ministro não está, contudo, preocupado com eventuais acusações de traição à pátria – uma hipótese que tem sido muito comentada.
Sem medo de acusações de traição
“Gostava que avançassem com isso… Não há qualquer arena, qualquer tribunal, qualquer fórum, no qual não estivesse disponível para participar para defender e explicar o que fiz”, diz Varoufakis, que receia, porém, nunca vir a ter essa oportunidade.
“Receio muito que os meus detractores, aqueles que têm brandido essas acusações, não apareçam para me confrontar, porque não há qualquer ponta de verdade naquilo que dizem. É apenas parte da propaganda que fazem contra mim”.
Política de Tsipras não faz sentido
Quanto ao agora demissionário primeiro-ministro Alexis Tsipras, Yanis Varoufakis não consegue encontrar uma explicação para o que o levou a negociar com Bruxelas um terceiro resgate, submetendo a Grécia a mais austeridade e indo contra o programa com o qual o Syriza foi eleito em Janeiro deste ano.
“O partido que servi e o líder que servi decidiram mudar completamente de rumo e abraçar uma política económica que não faz sentido absolutamente nenhum e que nos foi imposta”, comentou à rádio australiana.
O ex-ministro vê mesmo em Tsipras uma versão moderna do mítico grego de Sísifo, que “carrega a mesma pedra de austeridade pela colina acima contra todos os mais profundos princípios éticos”.
Varoufakis acha, aliás, que o próprio Tsipras não acredita no memorando de entendimento “de fachada” que assinou para receber o terceiro resgate.
Para o ilustrar, o ex-governante aponta para o que está escrito na primeira página do documento. “O Governo compromete-se a consultar e a acordar com a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o FMI em tudo o que diga respeito às acções relevantes para atingir os seus objectivos, antes de estas medidas serem legalmente adoptadas”, leu, para logo a seguir questionar: “Estão a ouvir isto? O Governo compromete-se a aceitar mesmo que não aceite? Claro que não há qualquer compromisso que obrigue a troika a fazer acordos com o Governo grego. Isto são os termos de uma rendição”, ataca.
Varoufakis já decidiu que não concorrerá às eleições antecipadas e está até descrente sobre as consequências desse plebiscito.
“Não acredito que o Parlamento que emerja das próximas eleições possa almejar a conseguir uma maioria que apoie um programa económico racional e progressivo”, atira.