A estratégia (esperta) de Santana Lopes e o futuro do PSD

1. É um facto quase inédito e digno de registo: Pedro Santana Lopes actuou com grande dignidade e sentido de responsabilidade. É certo que, enquanto Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Santana Lopes se revelou um homem com genuínas preocupações socias, sempre disponível e com trabalho feito. Mas, politicamente, Santana Lopes evidenciou, nos…

2. Nós que tanto aqui denunciámos os erros monumentais de Santana Lopes, as suas cambalhotas, piruetas, ditos e desditos, desta feita, temos de enviar um elogio público a Lopes: revelou um grande sentido de responsabilidade e de dignidade das suas funções como Provedor da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa. E um humildade própria dos homens inteligentes e sensatos: ao perceber que as hipóteses de sucesso da sua candidatura presidencial seriam mínimas, Santana apoia implicitamente o candidato mais forte do centro-direita (Marcelo Rebelo de Sousa), contribuindo para a vitória do seu – nosso – espaço político. Isto não é cobardia: pelo contrário, perceber que há outro que pode contribuir para a realização do interesse superior de Portugal e em quem os portugueses mais confiam (Marcelo) é uma atitude muito nobre. Fica, pois, aqui a minha palavra de apreço por esta atitude de Pedro Santana Lopes.

3. Significará esta saída da corrida presidencial uma abdicação total e irrevogável de Pedro Santana Lopes da vida política, dedicando-se apenas às muito relevantes funções sociais na Santa Casa? Julgamos que a resposta é negativa. A saída de Santana da corrida a Belém, para além de um acto de humildade, de coragem e de nobreza de espírito, é um acto de esperteza política. Santana Lopes já tem na cabeça uma estratégia política muito bem urdida.

4. De facto, enquanto todos discutiam se Santana Lopes iria ou não ser candidato presidencial, o ex-Primeiro-Ministro já estava noutra. Lopes percebeu duas realidades novas que entretanto emergiram: i) Marcelo Rebelo de Sousa é imbatível nas eleições presidenciais, sendo que uma eventual candidatura sua seria sempre derrotada (podendo mesmo ser humilhado, o que acabaria com todos os seus planos políticos); ii) Rui Rio, com as suas hesitações, com os seus apoiantes a disseminarem informação errónea e precoce nos meios de comunicação social, perdeu força política quer como possível candidato presidencial (candidatura que também está em risco de extinção iminente), quer como possível substituto de Pedro Passos Coelho na liderança do PSD.

5. Pois bem, o que levanta uma dúvida: então e se Passos Coelho perder, quem será candidato a líder do PSD? Rui Rio, o nome mais falado, já está muito desgastado e praticamente sem apoiantes (pela simples razão de, como nós antecipámos aqui no SOL, foi demasiado ganancioso, revelou demasiada sede de poder..). Será Luís Montenegro? Embora Montenegro seja politicamente muito talentosa, não galvaniza o partido e está a ser patrocinado por Miguel Relvas. Será Maria Luís Albuquerque? Maria Luís é uma personalidade única na política portuguesa e uma pessoa muito competente: daria uma líder política virtuosa. Mas não tem peso interno no PSD e a ala social-democrata (nós qualificamos como a ala conservadora) foge de Maria Luís como o Diabo foge da cruz…Quem resta?

6. Ora, aqui chegamos à conclusão que nos parece evidente hoje: se Passos Coelho perder no dia 4 de Outubro, e decidir deixar a liderança social-democrata, o PSD vai recuar uma geração nos seus órgãos dirigentes. Que significa isto? Fácil: significa que o próximo líder do PSD será alguém oriundo dos históricos do partido ou, pelo menos, alguém que já exerceu responsabilidades dirigentes no pré-Passos Coelho. Personalizando: julgamos que a sucessão de Passos Coelho passará pelo confronto entre Luís Marques Mendes e Pedro Santana Lopes. Um deles terá grandes probabilidades de ascender à liderança do partido se Passos Coelho perder as legislativas. Basta quererem. E Santana Lopes sabe isto melhor do que ninguém.

7. Donde, Lopes, inteligentemente, antes de saber o resultado das legislativas para não ser apelidado de oportunista, retira-se da corrida presidencial, resguardando-se para não se desgastar politicamente, ficando à espreita (andando por aí, para o citar) que se abra a vaga na liderança do PSD. Nós achamos que esta vaga não se abrirá, por uma razão: Passos Coelho vai ganhar e será Primeiro-Ministro de Portugal por mais quatro anos. A bem de Portugal e dos portugueses. E das gerações de portugueses vindouras.

8. Se não resultar a opção da liderança do partido, Santana Lopes já terá o apoio das estruturas do PSD de Lisboa para concorrer à Câmara Municipal da capital de Portugal. O que acaba por confirmar a ideia que nós lançámos aqui no SOL há já muito tempo de que Santana Lopes é, de longe, o melhor candidato a Lisboa do centro-direita. Na altura, fomos muito criticados: hoje ficamos muito felizes por saber que é uma ideia praticamente consensual entre os laranjinhas (e muita gente do CDS).

9. Santana Lopes, em suma, fechou uma porta (candidatura presidencial) para abrir duas: liderança do PSD; ou Câmara Municipal de Lisboa. No entanto, no essencial, Santana, ao retirar-se da corrida a Belém, esteve muito bem: fica, pois, o nosso merecido elogio a Lopes.

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