A entrada de álcool, petardos e outro material pirotécnico, contrariando a legislação sobre segurança desportiva, tem ocorrido frequentemente nos estádios de Braga e de Guimarães, devido a uma alegada pressão dos dirigentes desses clubes sobre os mais altos responsáveis hierárquicos da PSP, que por sua vez condicionarão os oficiais responsáveis pelo policiamento dos jogos a ‘fechar os olhos’ à entrada desse artefactos nos dois estádios minhotos.
Esta situação levou a que, no início do mês de Agosto, sete oficiais do comando de Braga tivessem apresentado, em bloco, um pedido de transferência para outros comandos em zonas onde não existe futebol profissional – algo inédito na história da PSP. Alegaram que recusam «pactuar com ilegalidades nos estádios, que podem causar uma grande tragédia, pois além de petardos entram bebidas alcoólicas e outro material proibido», segundo denunciaram ao SOL fontes sindicais.
O Sindicato Nacional dos Oficiais de Polícia (SNOP), ao qual pertencem os sete subcomissários formados no Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna, já está a par do caso e promete tomar medidas. «Esta situação é muito grave. A PSP tem de ser uma instituição livre de quaisquer influências externas», sublinha o presidente do SNOP, Henrique Figueiredo, adiantando que vai pedir uma reunião com a direcção nacional da PSP nos próximos dias.
Filipe Silva, o subcomissário que, em Maio, agrediu um adepto benfiquista perto do estádio de Guimarães , é um dos sete oficiais protagonistas deste protesto.
Mas Henrique Figueiredo salienta que estes pedidos de transferência «nada têm a ver com o episódio de Guimarães, muito pelo contrário: o que se pretende é evitar mais casos como o desse oficial». Filipe Silva está atualmente suspenso preventivamente de funções, por decisão da tutela.
‘Clima de mal-estar’
Na divisão de Guimarães, a situação revela-se mais preocupante, pois foram todos os cinco oficiais aí colocados que pediram para sair do comando de Braga. Também os comandantes das esquadras de Braga e de Barcelos formalizaram há quase um mês os seus pedidos de transferência.
Segundo apurou o SOL junto de fontes sindicais da PSP, «há uma maioria silenciosa no comando de Braga, desde oficiais a agentes e chefes, que estão fartos de ser enxovalhados por dirigentes desportivos, a quem nada acontece, apesar das participações que têm sido levantadas, assim como a diversos adeptos».
O protesto dos sete oficiais tem a ver com «um clima de mal-estar generalizado em relação ao Sporting de Braga e ao Vitória de Guimarães». No caso de Guimarães, relataram ao SOL fontes conhecedoras da situação, as pressões terão chegado ao ponto de, recentemente, um dirigente do clube ter afirmado que «de nada valem as participações feitas pela Polícia ao Instituto do Desporto [organismo responsável pela instruir dos processos e aplicação das multas], porque tem uma irmã que lá trabalha e ‘abafa’ todos os processos relativos ao Vitória».
E, exemplificam as mesmas fontes, «talvez por isso ninguém tenha sido punido na sequência dos incidentes, há um ano e meio, no jogo entre as equipas B do Vitória de Guimarães e do Sporting de Braga, já para não falar do que se passou em Braga, há duas épocas, num jogo com o Paços de Ferreira» (cujos adeptos invadiram o campo para poderem fugir à claque de Braga).
Entretanto, em resposta ao SOL, o Vitória de Guimarães referiu: “Relativamente à questão concreta que coloca sobre se o Vitória Sport Clube coagiu agentes da PSP, devemos transmitir que a situação hipotética que se descreve é totalmente descabida e surrealista e que só pode ser mera brincadeira de mau gosto”. “Quaisquer outras questões do foro interno da PSP são do nosso desconhecimento pelo que não tecemos comentários”, conclui o assessor de imprensa do Vitória de Guimarães, João Filipe Santos.
Quanto ao assessor de imprensa do Sporting Clube de Braga, André Viana, optou por não fazer comentários, invocando tratar-se de uma questão interna da PSP.
O Comando Distrital da PSP de Braga ainda não respondeu às questões colocadas pelo SOL.