“Esta é considerada a companhia de teatro que reinventou o teatro documental. Tratam de questões políticas não através de uma peça apresentada por um grupo de actores mas dando a palavra às próprias pessoas cuja situação é tratada na peça”, explica Mark Deputter, director artístico do Teatro Maria Matos. Agora essas pessoas podem ser os donos das 39 casas de Lisboa que se disponibilizem para receber o espectáculo, dois convidados à sua escolha e os restantes 12 espectadores – esses podem comprar bilhete para entrar em cada sessão. Ou, no caso, em cada casa.
Antes de começar a limpar o pó para encher a sala de teatro, há um formulário a preencher no site do Maria Matos. E há algumas exigências por parte dos inquilinos Rimini Protokoll, ainda que não sejam demasiado complexas: as casas têm de ter uma mesa que chegue para sentar 15 pessoas, 15 cadeiras, 15 pratos e canecas, alguns copos, uma ficha eléctrica a jeito e também o fogão a funcionar. O resto será à responsabilidade dos dois elementos da companhia que vão tocar à porta uma hora antes de tudo começar.
Isto significa que o dono da casa não vai apenas ceder o espaço. Vai também participar na peça, embora isso não implique representar ou decorar falas. “Os Rimini Protokoll não nos vêm falar da Europa, mas visitam as nossas casas para nos ouvir falar da Europa. E de nós próprios. Europa em Casa não tem actores, nem texto, nem cenários. É um espectáculo-jogo onde os espectadores-participantes têm o papel principal”. O mesmo que já tinham feito em Remote Lisboa, quando puseram grupos de espectadores a seguirem instruções através de auscultadores e a andar pela cidade.
Com a companhia, o que vai entrar nestas 39 casas – e nas casas dos outros países europeus que também vão receber o espectáculo – é uma “ideia da Europa mais perto da nossa realidade”. Uma Europa que deixa de ser uma noção abstracta que vive em Bruxelas e passa a ser aquilo que significa para cada um. “Não é a Europa de cima para baixo, como é costume, mas de baixo para cima”.