Crime no TGV

Dois americanos e um inglês foram condecorados pelo seu acto de bravura no TGV, ao impedirem um ataque que poderia resultar em centenas de mortos. Ainda falta reconhecer publicamente a coragem de um francês e de um franco-americano que também colaboraram para neutralizar o atacante. 

Por sua vez, o sujeito armado alegou por intermédio da sua advogada que tinha fome, que encontrou as armas – uma Kalashnikov, uma pistola automática, carregadores e facas – num parque de estacionamento. Um kit completo para esfomeados! O homem ficou boquiaberto quando foi acusado: «moi, terrorista?». Parece que já estava a ser investigado por ligações à Síria. Mas deve ser o primeiro caso de um terrorista apanhado em flagrante que negue e que confesse que, apesar de estar armado até aos dentes, era um simples criminoso. O massacre não aconteceu graças a cinco cidadãos corajosos. A defesa do terrorista incompetente não convence mesmo sem ter havido vítimas mortais.

Joffrey em Viana

Vimos há dias que ‘uma tourada com anões’ em Viana do Castelo tinha sido cancelada. O insólito foi dado a conhecer por não se realizar, o que significa que ninguém prestou atenção à notícia de que tal evento tinha sido organizado. A juntar ao pasmo temos os responsáveis pelo cancelamento do ‘espectáculo cómico’, nada mais nada menos do que um movimento pró-tourada de Viana do Castelo e por razões de secretaria. Segundo o porta-voz do movimento ‘Vianenses pela Liberdade’, o Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga não dera autorização para a utilização do recinto. Resumindo várias confusões jurídico-administrativas, não havia condições. É verdade que há hoje uma preocupação obsessiva com o politicamente correcto, mas parece haver uma ganância, se me permitem, no movimento ‘Vianenses pela Liberdade’. A proposta de organizar uma tourada com anões parece saída da cabeça de Joffrey Baratheon, em A Guerra dos Tronos. E sabemos como esse episódio acaba. 

A pílula rosa

Há dias ficou decidido entre amigos e risota que uma mulher tinha mais capacidade de resistir a uma tentativa de sedução (se quisesse) do que um homem (cuja vontade decidimos ser por norma mais frágil). Isto a propósito do abusivamente chamado ‘viagra feminino’, agora aprovado pela FDA, depois de há cinco anos exactamente a mesma droga ter sido chumbada. O que mudou entretanto? Nada de realmente substancial. No Daily Beast explicam. A Sprout Pharmaceuticals, baseada em Raleigh, na Carolina do Norte, que produz a substância activa flibanserin, lançou uma campanha fortíssima na Internet chamada ‘Even the Score’ (eventhescore.org) para pressionar a FDA a aprovar o fármaco por motivos de igualdade de género e que nada têm que ver com ciência. Parece que há 26 medicamentos para estimular a libido masculina e nenhum para o mesmo efeito nas mulheres. E há certamente motivos sérios para isto que vão além da mera política. Cuidado com a pílula rosa.  

O bilionário e o chinês

Há vantagens em ver temporadas de séries de seguida e não ao ritmo de um episódio por semana. A actividade de binge-watching, ou festança televisiva, tem os benefícios de podermos ver o todo composto por partes que não são homogéneas. Dito de outra forma: há episódios melhores e outros piores. Talvez por tê-la visto de seguida, a segunda temporada de Silicon Valley pareceu-me superior à primeira. A história de um geek que descobre um sistema pioneiro de comprimir ficheiros continua de forma angustiante. Há que procurar financiamento com urgência e sobreviver a um processo em tribunal. Chamo a atenção para duas personagens excelentes nesta temporada: o investidor que fica deprimido porque deixa de fazer parte da lista de bilionários e passa a ter uma fortuna de 986 milhões de dólares e o chinês que desenvolve aplicações e diz tudo o que lhe passa pela cabeça. Que ninguém diga que a vida é fácil no pedaço de terra mais rico do planeta.  

Khaled Al-Assad

O ISIS já assassinou milhares de pessoas, por isso falar em particular de uma vítima pode parecer injusto ou uma falta de respeito. É, no entanto, impossível não homenagear Khaled Al-Assad, de 82 anos. Arqueólogo, responsável pelos museus na Síria durante mais de 30 anos, era considerado o ‘pai de Palmira’ pela sua dedicação, pelo estudo e activismo na preservação da cidade antiga. Foi torturado durante um mês para que revelasse o paradeiro de peças antigas que foram escondidas na Primavera por causa da ameaça do ISIS. Foi feito prisioneiro juntamente com a mulher e um filho (dos quais não se conhece o paradeiro), mas as restantes seis filhas ficaram felizmente a salvo noutros locais. Al-Assad não cedeu e os selvagens decapitaram-no, penduraram o seu corpo à entrada da sua amada Palmira e deixaram a cabeça aos seus pés. Já não suporto os artigos que explicam a lógica do terror desta gente. O ISIS é um inimigo inexplicável da humanidade.