2. Sexo e remunerações. O INE da Grã-Bretanha (o Office of National Statistics) estimou recentemente o valor do capital humano dos britânicos, ou seja, o montante que se espera que as pessoas ganhem aos longo das suas vidas activas. Uma das conclusões mais notórias  é que o valor do capital humano das mulheres é 40% inferior ao dos homens. Esta diferença é devida a dois factores: as mulheres ganham menos, em média, e passam menos tempo em actividade ao longo das suas vidas. Se estes dados são demasiado agregados para tirar conclusões sobre discriminação salarial imputável ao género, o mesmo não se pode dizer sobre um estudo do Chartered Management Institute, que mostrou que, em idênticas posições de gestão, as mulheres tendem a ganhar 22% menos que os colegas homens. Em resposta,  David Cameron  decidiu obrigar as empresas com mais de 250 empregados a realizarem e tornarem públicas auditorias sobre as suas diferenças salariais. Chama-se a isto naming and shaming.

 

3. Financiamento da ciência. Maria João Rodrigues e António Coutinho deram recentemente voz a um debate surdo que percorre a academia nacional, referente aos financiamentos feitos pela  Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). De um lado os que defendem a inclusão; do outro os que defendem a selecção. Para quem defende a inclusão, são importantes o número de cientistas e centros financiados, a sua distribuição geográfica e as áreas de conhecimento abrangidas. Para que defende a selecção, o relevante é o impacto na comunidade científica internacional ou na economia nacional. Para os primeiros as verbas disponíveis devem ser distribuídas com preocupações de homogeneidade. Para os segundos, devem desproporcionadamente premiar os melhores. Não tenho dúvidas onde me situo. Há muito que digo que, globalmente, não me parece faltar dinheiro na ciência;  só que ele é usado para financiar centros e actividades que, pura e simplesmente, não são muito boas. A FCT prometeu muito mas recuou. Foi pena!

 

4. Investigação e ensino. Falei anteriormente de ciência. Uma das distorções causadas pelo sobrefinanciamento de investigação de reduzido impacto é a menorização do ensino nas universidades portuguesas (e um pouco por todo o mundo). Ensino de grande qualidade – que exige preparação pedagógica, actualização científica e, também, mundo – tem um impacto social, económico e – porque não? – científico maior do que investigação de mediana qualidade.