"Eu reagi com uma terrível frustração", disse António Guterres quando questionado pela jornalista da estação de televisão norte-americana sobre o que sentiu quando viu a imagem de uma criança morta que deu à costa numa praia da Turquia.
O alto comissário das Nações Unidas para os refugiados sublinhou que há muito tempo que se anda a falar nas questões legais que envolvem a mobilidade e a livre circulação de pessoas.
"Precisamos de avenidas [ligações] legais para ir para a Europa, para ir para o golfo, onde eu estou agora, e para outros locais de forma a permitir que haja mais reinstalações, mais oportunidades de admissão [de refugiados por motivos] humanitários, reforçar os programas de unificação justos e flexibilizar as políticas de vistos", disse na entrevista à CNN.
"Estas pessoas são forçadas a irem de barco, pagam 4.000 ou 5.000 euros, e morrem nestas circunstâncias desesperadas. Isto não faz sentido", afirmou.
António Guterres disse que a atual crise dos migrantes requer "uma resposta coerente".
"Precisamos de dar uma resposta coerente a esta situação e, na minha opinião, apenas a Europa como um todo, baseada na solidariedade, pode dar essa resposta. Nenhum país isolado o vai conseguir fazer", acrescentou.
A 26 de agosto, António Guterres tinha em conjunto com o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, apelado à criação urgente de centros de acolhimento e de triagem face ao fluxo de migrantes e refugiados na Europa.
Desde o início do ano, 293.000 migrantes e refugiados tentaram chegar à Europa através do Mediterrâneo e 2.440 faleceram durante o percurso, segundo os números anunciados no final de agosto por Guterres.
"Temos de acelerar e intensificar as decisões tomadas pelo Conselho Europeu relativo à Agenda para as Migrações. Há questões essenciais como a receção, o registo, os 'hotspots' [centros de acolhimento e de triagem], a relocalização e a reinstalação", disse então Guterres depois de uma reunião com o governante francês em Genebra, de acordo com a agência de notícias francesa.
Guterres deixou também um apelo à comunidade internacional para mostrar uma maior generosidade para com os refugiados sírios, salientando que o apelo feito pela ONU para um financiamento para o efeito obteve contribuições de apenas 41%, até ao momento, do montante total solicitado.
Lusa/SOL