O projecto já tem local para instalar os tanques para aquacultura. Vendas Novas, no distrito de Évora, será a cidade onde Paulo Pedro e o seu sócio, Valery Afilov, veterano da aquacultura de esturjão na Europa de Leste, irão produzir pela primeira vez as ovas. Na instalação, com tanques que ocuparão 6.000 metros quadrados, serão utilizados peixes da instalação-piloto do projecto, que foi incubado no Campus das Gambelas da UA, em 2011, e que hoje conta com 300 peixes.
Naquela que será a primeira empresa a produzir caviar ‘made in’ Portugal, haverá várias espécies de esturjão. A que mais atenção reúne neste momento é a Acipenser ruthenus, ou Sterlet, como é mais conhecido o menor dos esturjões. Quando chegam a adultos, medem de 70 a 100 cm e pesam cerca de quatro quilos. “São relativamente pequenos. Pelos testes que realizámos nos peixes que comprámos, uma fêmea consegue produzir dez mil ovas em dois anos e meio”, continua o biólogo, congratulando-se pelos bons resultados obtidos em tão pouco tempo.
Os mais valiosos dos esturjões – o sevruga e o beluga, cujas ovas chegam a atingir os 12 mil euros por kg – também têm residência assegurada na cidade norte-alentejana. “Teremos beluga, mas a espécie demora no mínimo sete anos a produzir”, conta Paulo Pedro. “Quando chegar a adulto pesará entre 50 e 80 kg”. No seu habitat natural, o beluga pode levar entre 10 e 20 anos a atingir a maturidade sexual. Metade dos animais que estão no Algarve estão já em condições de produzir.
Tecnologia ajuda a produção
Qual o ‘segredo’ para encurtar o tempo para que os esturjões possam produzir a iguaria de luxo? Tecnologia de ponta, denominada RAS – sistemas de recirculação de água. “Em Portugal, a tecnologia de aquacultura que existe permite que a água entre de um lado e saia do outro. Com esta tecnologia sofisticada utilizamos sempre a mesma água. O ambiente é extremamente controlado, e mimetiza as condições naturais em que viveriam os peixes”. E para rentabilizar o negócio, que conta com um investimento de 12 milhões de euros, nada é deixado ao acaso: “Os esturjões fazem chichi na água. Nós utilizamos bactérias que transformam o chichi em nitratos. Em sistemas aquapónicos, utilizamos a água e transformamos em plantas”.
Com um investidor assegurado – uma empresa nacional que actua em diversas áreas, uma das quais a construção civil em Angola e no Brasil – e já com trabalho feito de promoção do produto, a empresa conhece o terreno que terá de calcorrear. “No país, temos pequenos distribuidores de pequenas quantidades”, diz Paulo Pedro.
Europa e Rússia na mira
A grande prioridade será a exportação. Há um “mercado enorme na Europa” e o mercado russo, com parcerias de empresas portuguesas, “escoa muitas toneladas”. África e Canadá têm potencialidade e a empresa está a desenvolver também Macau e Hong Kong.
O único percalço que terá de ultrapassar prende-se com os atrasos no programa Promar 2020, cofinanciado pelo Fundo Europeu das Pescas. “O Promar tem de abrir novas candidaturas. A ministra [da Agricultura e do Mar, Assunção Cristas] é convincente nas reuniões, mostra que há empenho mas o mesmo não se passa abaixo”, refere Paulo Pedro, lamentando que o “programa estratégico para o país esteja com dois anos de atraso”.