É que não basta para ser Presidente da República afrontar ou falar grosso para Pinto da Costa e ter um orçamento muito austero, enquanto a cidade do Porto perdia em vivacidade e alegria. O Porto, que sempre foi uma cidade cultural, foi durante o consulado de Rui Rio uma sombra da sua História. A governação de Rui Rio teve, de facto, alguns méritos – mas também muitos e relevantes deméritos. Sabemos que esta é uma realidade difícil de aceitar: a verdade, contudo, impõe-se com muita força. Felizmente, Rui Moreira está a mostrar que é impossível devolver a alma à cidade do Porto, mantendo o orçamento equilibrado.
Dissemos, então, que a declaração política de Rui Rio é, mais um passo, rumo à sua desistência da corrida a Belém. Porquê? Porque a declaração política de Rio é manifestamente infeliz. Em vez de adoptar um tom construtivo, de galvanização, de defesa da sua estratégia – Rui Rio preferiu um tom de vitimização, de “calimero”, sem qualquer razão para isso. Se há alguém que tem merecido um tratamento muito favorável da comunicação social e dos “opinion makers”, esse alguém chama-se…Rui Rio! Rui Rio já cometeu muitas trapalhadas nos últimos meses, e ainda nem sequer é candidato, com a condescendência simpática da opinião publicada e dos principais jornais portugueses. Imagine-se o que seria se Pedro Santana Lopes, ou mesmo Marcelo Rebelo de Sousa, dissessem o que disse Rui Rio ou que anunciassem a sua candidatura aos amigos mais próximos e, no minuto seguinte, a desmentissem ou adiassem? Ui, nem quero imaginar o que seria! Seriam instáveis, desequilibrados, pouco confiáveis – mas quando se trata de Rui Rio, mudar de opinião de segundo em segundo é uma atitude senatorial! Estamos, pois, conversados sobre o tratamento discriminatório que Rui Rio alega ter merecido. Sabe, meu caro leitor, é que a ingratidão é algo que fica muito feio. Sobretudo para quem quer exercer altas funções políticas.
Enfim, o tom de vitimização é próprio de quem quer desistir e quer arranjar um pretexto para sair discretamente e responsabilizar terceiros, apagando os (muitos) erros próprios. Rio entra, aliás, num caminho deveras perigoso: insinua que Marcelo Rebelo de Sousa utiliza os seus comentários semanais para atacar Rui Rio e fazer propaganda política. Nós temos exactamente a opinião contrária: Marcelo Rebelo de Sousa é demasiado benevolente para com Rui Rio nos seus comentários! Nós incluímos Marcelo no naipe de comentadores que tentam adocicar os disparates sucessivos políticos de Rui Rio! É também devido à simpatia e à imparcialidade analítica de comentadores, entre os quais Marcelo Rebelo de Sousa, que Rui Rio ainda pode ambicionar qualquer coisa (não sei bem o quê: Rio, no entanto, vai a todas, liderança do PSD, presidência da Junta de freguesia do Tortosendo, com todo o respeito para esta bonita freguesia…) na política portuguesa. É que Rui Rio comete disparates a mais em tão curto espaço de tempo!
Até porque insinuar que Marcelo usa a TVI para se promover, e que a TVI promove Marcelo é um argumento – falso! – que só prejudica Rio. Para já, porque Rui Rio, apesar das suas limitações políticas, vale mais do que isto. Segundo, porque a verdade é que Rui Rio também só escolhe publicar esta sua declaração política no “JN” porque é o jornal que lhe é mais favorável, em virtude das relações que com ele estabeleceu, objectivamente e sem qualquer insinuação pejorativa, fruto do exercício das suas funções, enquanto Presidente da Câmara Municipal do Porto. Portanto, é uma insinuação que fica muito mal a Rui Rio – e que só o desprestigia.
Além disso, temos de dizer aqui, por dever de verdade e transparência para com os estimadíssimos leitores do SOL, que Rui Rio não disse a verdade toda na sua declaração política ao “JN”. Sabemos de fonte segura, sem revelar a identidade da nossa fonte, que vários apoiantes de Rui Rio, entre os quais se tem destacado Marco António Costa (versão que nós não confirmamos, nem desmentimos), disseram aos jornalistas que Rui Rio iria anunciar a sua candidatura no dia 10 de Junho e que já tinha o local reservado!
Mais: o núcleo duro da candidatura de Rui Rio já tinha uma série de iniciativas de campanha programadas antes do verão! E, de repente, Rio recuou – e adiou para Setembro e, agora, para Outubro. Porquê? Porque Rui Rio não quer ir para Belém e não quer ir para a liderança do PSD, em particular. Rui Rio só quer estar na política. Ponto final. Não interessa para onde, nem interessa para quê: só interessa estar no poder. Portanto, está a ver o que será mais fácil: Belém ou PSD. Perguntamos: por que razão Rui Rio meteu os seus peões de brega (utilizando a sua expressão) a meter notícias na comunicação social, se, afinal, ainda estava em processo de ponderação? Sede de poder. O poder é uma volúpia que custa muito caro a muita gente.
Nós, apesar de tudo, percebemos o estado de espírito de Rui Rio: neste momento, tem muito tempo disponível, habitou-se a estar na Câmara do Porto com as suas polémicas e, agora, sente um vazio na sua vida. É quase uma síndrome de inactividade pós-política: a incapacidade de se ajustar sem exercer funções de poder. Temos de, nestes casos, atender ao lado humano…A compreensão do lado humano não pode, porém, afectar a sensatez do juízo político: Rui Rio, pelos disparates que já fez, poderá ter hipotecado a sua careira política. Para Belém, Rui Rio já é uma carta fora do baralho.