Catarina vs Portas: Da Grécia a Salvaterra de Magos com pensões pelo caminho

   

Paulo Portas e Catarina Martins chegaram ao debate televisivo com as armas de arremesso bem definidas: de um lado a situação da Grécia e os inesperados dados sobre a câmara que foi gerida pelo BE, em Salvaterra de Magos, e de outro as pensões e a Segurança Social. O líder do CDS e a porta-voz do BE estiveram esta noite, na SIC Notícias, num debate que foi mais um confronto de ideologias. 

Ao longo do debate, foram várias as ocasiões em que Paulo Portas se socorreu da situação na Grécia para confrontar Catarina Martins e fazer o contraponto com o Governo. "A reestruturação da dívida grega onde está? Dizia que não pediria mais um resgate, aceitou o terceiro, que a austeridade iria acabar, aceitou em dobro, que a Europa iria mudar – que me pareça quem mudou foi Tsipras", afirmou Portas, notando que "o BE chegou ao ponto de achar normal uma coligação [do Syriza] com a extrema-direita". Mas a bloquista aproveitou o momento para "sossegar" o vice-primeiro-ministro: "Não concordo com o plano de austeridade da Grécia. Mas temos respeito e somos solidários com um caminho de alternativa na Europa". 

Sobre as privatizações, Paulo Portas incentivou Catarina Martins, que acusa o Governo de "negociatas", a dirigir-se ao Ministério Público se considera que tem "consistência suficiente para abrir um inquérito". "Fazer insinuações e dizer que são negociatas não tem a ver com Estado de Direito, tem a ver com factos", afirmou o líder centrista. Foi aqui que Portas desencantou Salvaterra de Magos, a única câmara do BE, para apontar uma contradição a Catarina Martins. "O BE nunca governou nenhuma entidade excepto uma, Salvaterra de Magos. A presidente de Câmara fez, em 2009, para o transporte da vila, um ajuste directo. E a concessão a um privado, a Barraqueiro, um dos privados que o BE gosta de agitar fantasma. Antes de fazer insinuações, veja bem na sua casa", afirmou Portas. 

A porta-voz do BE acusou o Governo de governar "sistematicamente contra a Constituição" e questionou o vice-primeiro-ministro sobre o plafonamento das pensões e o corte de 600 milhões na Segurança Social, lembrando que o CDS foi outrora o partido dos pensionistas. Um ataque certeiro: foi precisamente sobre as pensões que Portas sentiu mais dificuldades no debate. O líder do CDS disse apenas que o corte de 600 milhões "não é feito, com certeza, à custa de redução de pensões em pagamento". Algo que já foi dito pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, mas sem adiantar como essa poupança será alcançada, sem recorrer a cortes nessas pensões. 

Da Economia à Segurança Social, passando pela saída do euro, Catarina Martins e Paulo Portas deixaram a descoberto o fosso ideológico que os separa. Apenas convergiram na cor: Catarina escolheu uma blusa vermelha e Portas uma gravata da mesma cor. A porta-voz do BE acusou o Governo de destruir a contratação colectiva, colocando os trabalhadores em "grande fragilidade". "A economia vive do abuso. Precisamos de ter dignidade no trabalho, a cada posto de trabalho deve corresponder um contrato", afirmou. Já o líder dos centristas disse preferir "um estágio a um desempregado, um contrato a prazo a um estágio e um contrato definitivo a um a prazo". 

No final do debate, foram questionados sobre o que seria um bom e um mau resultado. Catarina Martins afirmou que uma vitória seria "aumentar o grupo parlamentar do BE" e uma derrota seria "perder representação parlamentar", enquanto Paulo Portas pediu uma "maioria estável para poder governar", mas não referiu o que seria um mau resultado. 

sonia.cerdeira@sol.pt