O debate desta noite, moderado por Ana Lourenço, provou que Catarina Martins é líder de um partido que se alterou no seu paradigma. O Bloco de Esquerda é o contrário do que o fez ser único e um caso de sucesso – mesmo quando tenta ser simpática é crispada, tem uma retórica agressiva e radical (muito próxima da velha UDP), é pouco ou nada cosmopolita e, estou em crer, não é capaz de atrair jovens urbanos e cultos por mais desiludidos que estejam com o sistema.
À sua frente esteve Paulo Portas. O de sempre. Com a mensagem bem estudada, condescendente, a saber soltar as farpas certas nos momentos certos. A certa altura, quando corrigiu os números da balança comercial, anunciados sem precisão pela porta-voz do Bloco, percebeu-se que tinha a faca e o queijo na mão, a sua presa estava encurralada. O Paulo Portas acabado de sair do Independente tê-la-ia despedaçado, mas o de hoje poupou-a o melhor que soube – talvez para que o Partido Socialista não roube mais votos do que a conta à extrema-esquerda.
Deu a ideia de que o Presidente do CDS está confiante com as sondagens. Só assim se explica que tenha falado apenas da coligação sem demarcar o território do seu próprio partido. Se acreditasse que ia perder as eleições seria natural que utilizasse os debates como forma de sobreviver politicamente. Não o fez. Um mau sinal para o PS que António Costa tentará rebater amanhã.
Não se pode dizer que Portas ganhou o debate. Não é honra que se tenha ou procure, Catarina não é uma adversária à altura. Mas pode dizer-se que passou as mensagens que quis tendo o cuidado de não humilhar a sua adversária. Quanto à fragilidade de Catarina Martins diria que é uma boa notícia para António Costa e, num certo sentido, para o Livre de Rui Tavares e Ana Drago. Um militante do ‘velho’ Bloco de Esquerda, depois de ver o debate desta noite, não votaria no seu próprio partido, procuraria outras opções.