Por um lado, ficou claro nas últimas semanas que Marcelo Rebelo de Sousa vai avançar com a sua candidatura presidencial. O que se tornou um dado relevante para a decisão do provedor da Misericórdia, pois, confessa, em janeiro “não acreditava que Marcelo fosse mesmo candidato”. E, pormenor não menos importante, Santana admite: “Se as sondagens me dessem vantagem, o meu dever maior seria avançar”. Adiantando: “Eu só avançaria se tivesse fortes probabilidades de vencer”. Ora, tudo indica que perderia claramente com Marcelo à 1.ª volta.
Por outro lado, Santana tinha o problema de ver fechar-se-lhe a porta da Santa Casa no momento em que anunciasse uma candidatura. Bem se insurgiu contra o facto “de não poder suspender o mandato” (ao contrário de outros como Jorge Sampaio, fez questão de recordar, que suspendeu as funções em 1991 na Câmara de Lisboa). Ou seja, a perspetiva era perder à 1.ª volta para Marcelo e perder, em simultâneo, o cargo na Misericórdia. Santana tomou uma decisão racional e prática.
Quem agora enfrenta dilemas semelhantes é Rui Rio. Não avançando já com uma candidatura a Belém, como prometera, corre o risco de o seu nome ser atirado para o palco na noite de 4 de outubro. No caso de uma derrota de Passos Coelho, haverá quem se lembre de apontar Rio para a liderança do PSD. E esse é, ao que parece, o cenário que ele menos deseja e quer evitar – o de ser mais um líder de transição numa mudança de ciclo político (ao estilo de António José Seguro).
Se Rio avançar com uma candidatura em outubro, será muito provavelmente trucidado pela votação de Marcelo à 1.ª volta. E o que poderá o ex-presidente da Câmara do Porto fazer depois com essa derrota, que o minimizará politicamente e lhe reduzirá a quase zero as hipóteses de, um dia, poder chegar à liderança do partido?
A decisão não é fácil. Tal como não era a de Santana.