Animais de estimação que vão ao spa

Cães como Picasso, gatos como Tareco, e ainda porcos-da-índia, coelhos, e até um cisne. Pelo Hospital Veterinário da Arrábida passam bichos de todo o país e de outros destinos europeus, em busca de sopas, descanso, e de uns quantos exercícios de reabilitação para melhorar a sua qualidade de vida. Dos tanques para fisioterapia às ondas-choque,…

Animais de estimação que vão ao spa

Picasso recebe-nos à entrada do Hospital Veterinário da Arrábida, deslocando-se na sua cadeira de rodas. A situação neurológica agravada por oito hérnias que enfrentou há uns anos não deixou este cão com 14 anos totalmente desabilitado. «A cadeira é apenas uma ajuda para estimular os passos», explica a diretora clínica Ângela Martins, apontando para os pequenos pedais semelhantes aos de uma bicicleta. A última cirurgia que fez às hérnias provocou algumas complicações e, depois dos cuidados intensivos, seguiram-se meses de reabilitação. «Adquiriu alguma autonomia, e para ter ainda mais, precisava de treinos intensos a longo prazo. Por isso usa esta estrutura, que é temporária», continua.

Não é o único cão a recorrer a este tipo de terapia, em que o dito aparelho suporta as patas traseiras. Mas cada doente tem dificuldades distintas, e por isso, diagnósticos diferentes. O que todos têm em comum é a necessidade de realizar exercícios de fisioterapia específicos, oferecidos em Portugal unicamente por este hospital veterinário. «Recebemos doentes de todo o país, inclusive das ilhas, e também já recebemos de outros países europeus. Por isso mesmo estamos a instalar duas câmaras na sala de reabilitação para que os donos os possam ver à distância e em tempo real». É nesta sala que se encontram os animais que já estão preparados para seguir com os tratamentos. De momento, estão ali apenas cães e gatos que reagem à nossa presença: os latidos e as caudas a abanar denunciam o estado de felicidade. «Todos eles têm um médico com quem gostam mais de trabalhar. Agora a paixão do Zipo, por exemplo, é o doutor Bruno. Eles adotam-nos. Às vezes os ‘donos’, como eles não reagem com muita alegria à sua presença, sentem um pouco de ciúmes quando os vêm visitar. É que realmente já se sentem muito felizes aqui. Já estão em casa.» Na verdade, se não fossem as feridas e os colares à volta do pescoço, ninguém diria que estão doentes. 

É o caso do cão Fredi e do gato Tareco que, com o auxílio de três médicos veterinários, caminham dentro de água sobre a passadeira rolante, num dos tanques de hidroterapia. Com eles,  Ângela induz o movimento das patas do gato num vaivém rotineiro de fisioterapia. «A grande vantagem que tem em relação às piscinas é que possui uma passadeira rolante incorporada. Portanto, eles aproveitam as propriedades da água e, ao mesmo tempo, estão a ser estimulados pelo tapete, que faz com que os movimentos se estabeleçam naturalmente o mais depressa possível», explica.

Este é outro dos métodos únicos desta clínica: a hidroterapia, uma área de reabilitação especializada em tratar animais intervencionados por cirurgia ortopédica e com lesões neurológicas, sendo também ideal para fortalecimento muscular e da função articular. Mas antes dos exercícios dentro de água, muitos dos animais que se encontram nesta sala já foram tratados com as duas máquinas laser, que se encontram noutro pequeno compartimento. «O Companion Therapy Laser 4 permite cicatrizar as feridas mais rapidamente, o que é bom porque quanto mais depressa puderem fazer os exercícios de hidroterapia, melhor». As ondas-choque são outra modalidade recente de reabilitação, absolutamente pioneiras na Península Ibérica e utilizadas para várias patologias ortopédicas, como, por exemplo, problemas de ligamentos e tendinites e a displasia da anca e do cotovelo. 

Dois meses de hidroterapia bastaram para que a cadela Benny  recuperasse da anca. Depois de uma operação à pata direita traseira, não conseguia pousá-la no chão. «Estava a ser tratada como uma rainha. Faziam-lhe massagens e andava nas passadeiras e dentro de água, aquilo parecia um spa!», afiança a ‘dona’, Cristina Silva. Depois dos exames realizados, os médicos veterinários concluíram que a operação tinha reparado a lesão com sucesso pelo que, na verdade, o problema de Benny era unicamente psicológico. «Ela pensava que colocar a pata no chão lhe iria provocar dores, então tivemos de lhe mostrar que ela própria, com a prática dos exercícios, conseguia deslocar-se com as quatro patas», explica a directora clínica.  

Mas os cães e gatos não são as únicas espécies que o hospital reabilita, tendo já recebido novos animais de companhia como por exemplo, porco-da-índia, coelhos, e porcos. «Cheguei até a fazer passadeira a um cisne!». 

A fisioterapia é um termo que quase nem é utilizado nesta casa, que procura especializar-se e até realizar formações e cursos sobre reabilitação, uma área que tem uma taxa de 94,6% de sucesso. «Não fazemos fisioterapia, mas sim reabilitação, porque o objetivo não é pô-los iguais ao que estavam. É sim, melhorar a sua qualidade de vida». Muitas vezes, é assim que conseguem salvar animais que estão à beira da eutanásia. «Tentamos não desistir e reabilitar sempre.» S.V. 

tabu@sol.pt