Costa acordou a meio e arrasou Catarina

Até ao minuto 34 do debate, António Costa estava em clara desvantagem. Depois de alguns momentos de conversa mole e simpática sobre os refugiados, Catarina Martins tirou da cartola uns incómodos 1.660 milhões de euros que o programa do PS se propõe poupar nos próximos quatro anos congelando as pensões dos reformados. Contra uma Catarina…

Até que, a meio do frente-a-frente, ao tal minuto 34, o tema mudou para a dívida e a sua reestruturação, o caso da Grécia, o recuo do Syriza. E aí veio ao de cima toda a demagogia radical de Catarina Martins e do Bloco de Esquerda, defendendo medidas irresponsáveis e impraticáveis em qualquer democracia europeia. Como Tsipras e Varoufakis amargamente tiveram que aprender.

A partir desse momento, Costa dominou o debate, encostou a líder do BE às cordas com os delírios da sua retórica inflamada e desmontou com eficácia as propostas irrealizáveis do programa bloquista (desde a renacionalização da banca e das grandes empresas, voltando aos tempos de 1975, ao desenfreado despesismo público que arruinaria em meses os cofres do Estado). O retrato impressionista das consequências de uma saída do euro, que Catarina aponta como solução última, e da miséria que isso traria ao país e aos portugueses, valeu a Costa a vitória no debate por KO técnico.

Foi o debate mais difícil e menos conseguido de uma Catarina Martins que apareceu nestes confrontos televisivos uns furos claramente acima das suas mais estridentes e menos serenas intervenções parlamentares.

Para António Costa, mais do que aliciar o já reduzido eleitorado do BE, esta prestação televisiva serviu para convencer os decisivos e numerosos eleitores do centro da sua moderação e do seu sentido de responsabilidade e governabilidade. Marcou pontos em vários tabuleiros.

jal@sol.pt