Estados de Alma

1.Ludditas. A Uber está a deixar os taxistas de todo o mundo num estado parecido ao dos operários durante revolução industrial do século XIX. Em muitos sítios recorre-se a métodos parecidos, apela-se ao camartelo do Estado para proibir a inovação tecnológica. Portugal não foi, como vimos esta semana,  exceção. A exceção é Londres, onde muitos…

2.Educação liberal. Numa semana em que o ensino superior esteve nas notícias por via das admissões, parece-me bem recordar um excelente artigo de John Kay no Financial Times de há umas semanas sobre os benefícios de uma educação liberal. A educação liberal representa uma tradição, comum nos países anglo-saxónicos, pela qual os estudantes são  expostos a uma grande variedade de tópicos e de abordagens ao conhecimento. O oposto, portanto, das licenciaturas altamente especializadas e ‘viradas para o mercado de trabalho’. O argumento básico em seu favor é que num mundo em rápida evolução, competências demasiado específicas ficarão facilmente fora de moda, enquanto que a capacidades para pensar criticamente, observar com critério, julgar a informação numérica e ser fluente na expressão verbal e escrita serão sempre de grande utilidade. Para mais,  as ferramentas de busca digital e a internet tornam cada vez mais fácil substituir o ‘saber’ pelo ‘saber como saber’. Claro que a humanidade só pode progredir se existirem muitos daqueles que ‘sabem mesmo’ e que, assim,  geram novo saber. Mas isso não é certamente necessário para todos a quem o progresso abriu as portas de uma educação superior.

3.A Europa apenas pode sobreviver partindo-se. A crise das migrações e a crise das dívidas soberanas colocaram a nu as fraturas no edifício europeu. Urge pensar audaciosamente em como prevenir o colapso. David Owen, ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido no final dos anos 70 e um dos membros do ‘gangue dos quatro’ que abandonou o Partido Trabalhista para fundar o Partido Social Democrata, argumenta em favor de uma comunidade dividida em duas:  a União e a Comunidade. A União consistiria da Zona Euro, que gradualmente assumiria poderes de natureza orçamental  e desenvolveria os concomitantes mecanismos de controlo democrático. A Comunidade  agruparia os países fora da Zona Euro (Reino Unido, Islândia, Noruega e mesmo Turquia), associados com a União numa área de comércio livre. Esta associação poderia excluir as políticas comuns e, também, a liberdade de circulação de pessoas. Ousado? Talvez, mas a situação não é compatível com cuidados excessivos.

4.Long may she reign. Era a mensagem de quarta-feira, 9 de setembro, no topo da torre da BT em Londres, saudando Isabel II por se ter tornado a rainha que durante mais tempo serviu o seu país. Em modesta homenagem, os três pontos anteriores deste artigo tributam admiração e apreço a três traços marcantes desta sociedade: a capacidade de evoluir e de se modernizar sem revoluções, a modernidade das tradições e, finalmente, a complexa relação de distante pertença à Europa.