Os números relativos aos últimos cinco anos indicam que o noivo do sexo masculino continua a ser o elemento mais velho do casal, havendo, no ano passado, cinco vezes mais homens a unir-se pelos laços do matrimónio com parceiras mais jovens que o contrário. Mas já mostram uma nova tendência: há cada vez mais mulheres a escolher parceiros mais jovens para ter relações estáveis.
A média de idades dos membros dos casais que assumiram que ficariam ‘juntos para sempre’ continua, porém, a ser entre 20 e 34 anos (55%), mas há cinco anos era de 62%. Nota-se, portanto, uma maior disparidade entre as idades dos cônjuges.
E os dados do INE ficam bastante aquém da realidade, alerta o terapeuta de casais Quintino Aires. “O número de matrimónios pode não expressar a tendência real do que se passa na sociedade”, sustenta o psicólogo que, com base na sua prática clínica, acredita que “o fator idade deixou de ser importante”.
“Se recuarmos há 100 anos, a normativa social não contemplava a afetividade”, explica o psicólogo, acrescentando: “Hoje, principalmente a partir dos anos 60, 80, 90 a conjugalidade mudou. Já é por amor, pelos sentimentos, quer o homem seja o membro mais velho, quer seja o mais novo”.
A também psicóloga Joana Amaral Dias, de 40 anos, que mantém uma relação com Pedro, de 30, concorda. “A idade deixou de ser importante”, assevera a famosa cabeça de lista da coligação Agir por Lisboa, que fez furor recentemente ao posar nua, grávida, abraçada pelo namorado, na capa da revista de Cristina Ferreira. “Com 10, 12 anos de diferença, já é comum haver muitos casais”, comenta Joana, notando que, “até recentemente, se acreditava que era mais fácil o homem manter relações com parceiras mais jovens, em 20, 30 anos, até por questões biológicas”. Mas, “felizmente”, diz, “a ciência veio provar que essas crenças são mais mito que realidade”.
Uma questão de ‘partilha’
É sem qualquer pudor que fala da sua própria história: “Nunca senti qualquer problema, nem em termos de gostos, de preferências, de partilha. Também nunca senti qualquer estigma social ou cultural”, conta, assinalando que esse não será o caso de todas as mulheres que mantêm relações com homens mais jovens. “Depende muito do contexto em que vivem”. A verdade é que, após assumir mediaticamente a sua relação com um homem dez anos mais jovem, ‘choveram’ comentários na sua página do Facebook e desabafos na sua conta de e-mail de mulheres com situações amorosas que se assemelham, de alguma forma, à sua.
“Quero dar-lhe os parabéns pela relação com um homem mais novo”, congratulou-a Ana, também de 40 anos, num e-mail, recordando que também ela teve uma aproximação com um homem 12 anos mais novo, seu instrutor de fitness.
Segundo dados do INE, a que o SOL teve acesso, nos últimos cinco anos, houve registo de cinco casamentos entre mulheres com mais de 70 anos e homens com menos de 39. Dois dos matrimónios foram mesmo com homens entre os 20 e os 24 anos.
Estamos ‘a aprender a amar’
Quintino Aires, que mantém há mais de sete anos um programa na Antena 3 sobre relações amorosas, garante porém que, “surpreendentemente”, o preconceito é maior quando a mulher é o membro mais jovem do casal: “É imediato o preconceito de que é por interesse e não por amor e isso está enraizado na história, na nossa cultura”.
A história de Maria Antónia, de 36 anos, que mantém um relacionamento com Tomás, 17 anos mais velho, corrobora esta visão – sobretudo no seio familiar. “Os meus pais são de uma aldeia da Beira Interior e sempre tiveram dificuldade em aceitar que eu tivesse uma relação com um homem mais velho do que eu”, comenta. “Não estão habituados, acho, sobretudo a minha mãe. E há uma pressão enorme quanto a esta questão, não pára de insistir que a diferença de idades é demasiado grande”, desabafa. “Mas não me parece que essa seja sequer a questão. Temos alguns gostos diferentes, como todos os casais, claro, mas partilhamos os mesmos interesses. Em cinema, literatura, música. Sobretudo, acho que aprendemos bastante um com o outro. E crescemos juntos”, desfia a profissional de marketing que vive na Costa da Caparica.
A visão de Quintino Aires é simples no que diz respeito à diferença de idades numa relação. No século XXI, “estamos, finalmente, a aprender a amar”.