O Homem vai mesmo desaparecer por causa das abelhas?

“Se as abelhas desaparecerem da face da Terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência”. A famigerada citação de Einstein andou de boca em boca recentemente, devido ao galardoado documentário Abelhas e Homens. E a verdade é que as abelhas estão a diminuir um pouco por todo o mundo, incluindo, claro, Portugal.

Em abril, um estudo do Departamento de Agricultura dos EUA, dava conta de que mais de 40% das abelhas nas colónias do país tinham morrido no espaço de um ano. Porquê?

Além da ameaça terrível que é a vespa velutina, proveniente da Ásia, que se instalou já em todo o Litoral Norte, e uma devoradora das nossas abelhas polinizadoras, e das alterações climáticas – a resposta reside nos pesticidas. Não apenas nos EUA mas também na Ásia e na Europa.

Porém – e apesar das evidências de que os neonicotinóides, uma controversa classe de pesticidas que gerou polémica em todo o mundo e que, pelo menos 30 estudos internacionais, provaram estar ligada ao declínio das abelhas em todo o mundo –, quando, em fevereiro de 2013, os Estados-membros foram chamados por Bruxelas votar a proibição destes pesticidas, Portugal votou contra. A Comissão Europeia proibiu, no entanto, o seu uso, com votos de 15 dos Estados-membros.

Na época, a associação ambientalista Quercus instou a tutela a proteger os polinizadores e assinalou que “em 1999, a Convenção sobre Diversidade Biológica em São Paulo emitiu a Declaração dos Polinizadores, reconhecendo o papel fundamental e a situação crítica deste grupo de espécies”.

Os ambientalistas alertaram ainda para o facto de as populações de polinizadores estarem num estado de declínio”, estando mesmo algumas espécies listadas como em Risco de Extinção. Esse declínio, avisou então a Quercus, “coloca uma significativa ameaça à integridade da biodiversidade do planeta e à qualidade e quantidade de alimentos disponíveis a uma população mundial crescente”.

Não há como fugir à conclusão de Einstein: precisamos das abelhas para sobreviver. Pelo menos 80% das culturas agrícolas mundiais necessitam de polinização para dar semente. As estimativas da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO, da sigla em inglês) das Nações Unidas apontam para que uma em cada três dentadas da nossa comida seja resultado do trabalho de animais polinizadores.

sonia.balasteiro@sol.pt