O último ano foi ingrato para os destinos do grupo, depois de quase uma década de ambição e crescimento. Vasconcellos saltou para a ribalta em 2006, quando a guerra de poder pela PT arregimentou os principais empresários do país. A OPA de Belmiro e Paulo Azevedo embateu num bloco opositor liderado por Ricardo Salgado, e o então desconhecido Vasconcellos apareceu como aliado do banqueiro do BES.
‘Contra tudo e contra todos’
Filho de Luiz Vasconcellos – amigo próximo de Balsemão, seu padrinho – e de Isabel Rocha dos Santos, Nuno geria um império familiar cuja génese remonta à Sociedade Nacional de Sabões.
Depois da OPA, a ascenção é meteórica. Compra o Diário Económico e faz uma oferta para controlar a Impresa, que Balsemão considera um movimento hostil e recusa com estrondo. Vasconcellos não recua e as relações com o padrinho azedam, até hoje. Nunca esconde a ambição. «Balsemão pode ter sido um pai, mas faço aquilo que tenho que fazer contra tudo e todos», diz, numa rara entrevista pessoal, ao Público.
Abre o Brasil Económico, tenta comprar a TVI, também sem sucesso, e nada o inibe de fazer contratações milionárias e polémicas. José Alberto Moniz é anunciado com pompa e circunstância, o deputado do PSD Agostinho Branquinho sai do Parlamento para trabalhar para o grupo, e o espião Jorge Silva Carvalho, ex-diretor do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa, torna-se quadro da empresa.
Apesar desta diversificação, a ligação com o duo BES/PT era indisfarçável. Se a face mais expansionista da Ongoing foi uma criação de Salgado durante a OPA, coube à Portugal Telecom alimentar o bebé. Uma das principais fontes de receitas do grupo de Vasconcellos eram os generosos dividendos que o grupo de Bava e Granadeiro davam aos acionistas.
No ano em que a operadora fez um pagamento extraordinário por ter vendido a Vivo, entraram nos cofres na Ongoing quase 140 milhões de euros. O financiamento via BES ajudava a tesouraria: a dívida da Ongoing era uma presença constante na carteira de títulos do fundo de investimento Espírito Santo Liquidez.
Com o colapso recente do BES e da PT, a Ongoing sofreu por arrasto. Sem as duas principais fontes de financiamento, deixou de conseguir pagar dívidas a bancos e fornecedores. Entrou para a lista de incumpridores do Banco de Portugal – ainda hoje está nessa categoria, verificou o SOL – e tem vários processos em contencioso.
Negócios à venda
O Banco Popular e a Mercedes instauraram processos executivos nos tribunais de Lisboa e Oeiras, mas o caso mais grave foi o do BCP: penhorou ações da Pharol que o grupo tinha dado como garantia no empréstimo que recebeu do banco. Não só Vasconcellos ficou sem esses ativos como foi forçado a renunciar ao cargo de administrador da antiga PT.
Sem receitas operacionais que sustentem o negócio, a venda de ativos tornou-se a única alternativa de salvar o que resta do grupo em Portugal. Foi entregue ao BESI, agora Haitong Bank, a missão de encontrar comprador para o Diário Económico. O edifício-sede no Chiado está à venda. A possibilidade de solicitar às autoridades um Programa Especial de Revitalização não está afastada.
Com a agonia em Portugal, Vasconcellos tem agora o reduto do Brasil, onde passa grande parte do tempo: divide a residência entre Lisboa, Rio de Janeiro e São Paulo. Apesar de também enfrentar dificuldades nos negócios locais – o Brasil Económico acabou com a edição impressa e é apenas um site de notícias – o setor de telecomunicações no país é o que resta como esperança de recuperação. Vasconcellos assumiu em Maio a presidência do iG, o fornecedor de banda larga e portal de internet que pertence à Ongoing.