“Para mim chega. Foram 48 anos nos Pink Floyd – uma boa parte deles no início com o Roger. E esses anos, que foram considerados o nosso auge, foram 95% musicalmente preenchidos e alegres e cheios de piada. Não quero que os outros 5% manchem a minha visão do que foi um longo e fantástico tempo juntos. O grupo fez o seu percurso, acabámos. Seria uma aldrabice regressarmos”, disse David Gilmour ao Guardian. Numa longa entrevista ao israelita Haaretz, Roger Waters, que vive em Nova Iorque, revelou não ter guardado nada da época, mas sente saudades daqueles tempos. “Foram 20 anos e muito trabalho, do qual muito foi bastante bom. E deu muito gozo fazê-lo, porque o trabalho é mais divertido do que a diversão”. No entanto, relembra que entraram em conflito desde Dark Side of the Moon (apesar de uma recente reaproximação) e que o fim do grupo é “irreversível”.
O desejo dos fãs num reencontro é que é visto de forma diferente: “É supinamente irritante”, atira Waters; “Obviamente que aceito que haja quem queira ir ver e ouvir uma lenda, mas isso já não é da minha responsabilidade”, diz Gilmour. Aquando do lançamento de Endless River já dissera que sem o teclista Richard Wright não faria sentido continuar.
Terceira idade ativa
Quis o destino que um e outro tenham por esta altura novidades. Aos 69 anos, David Gilmour tem um disco novo, Rattle that Lock, à venda desde esta sexta-feira. O filme Roger Waters The Wall, realizado durante a última digressão de Waters, de 72 anos, estreia em todo o mundo – e também cá – no dia 29; no fim de julho foi lançada a reedição de Amused to Death. Original de 1992, é um retrato impiedoso da sociedade-espetáculo, alienada pelo entretenimento. Um dos melhores e mais subestimados discos dessa década está agora disponível (com nova capa e remasterização). Num período fértil em atividade, Waters está a compor um novo álbum, o primeiro em dez anos, o qual vai mostrar em nova digressão, e está a escrever uma autobiografia.
Em Roger Waters The Wall, sabemos que, além do espetáculo que passou por Lisboa, há apontamentos de viagem reveladores: é filmado a tocar trompete junto do local, no sul de Itália, em que o pai morreu, durante a II Guerra.
O sucessor de On an Island nasceu numa estação de comboios em França. A David Gilmour chamou-lhe a atenção as quatro notas do jingle que precede os anúncios sonoros. De telemóvel no ar gravou o interlúdio e a partir nasceu o tema que intitula também o disco. Já a letra – e o vídeo – são inspirados n’O Paraíso Perdido de John Milton. Se o single soa a um resvalar para a pop entre os anos 80 e 90, o resto do disco toca diferentes géneros, jazz inclusive – mas a matriz floydiana está presente. Tal como, aliás, outros pormenores da produção. A capa, da autoria de Dave Stansbie, foi feita sob supervisão de Aubrey Powell, da antiga empresa de design Hipgnosis, responsável pelas icónicas capas dos Pink Floyd.
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A produção áudio esteve a cargo de Gilmour e de Phil Manzanera, tal como no último disco do grupo. E para reforçar a herança dos Pink Floyd, o baixista é Guy Pratt, cujo sogro era Rick Wright. Referência ainda para as participações de luxo de David Crosby, Graham Nash e Robert Wyatt em dois temas.