"Ninguém tem nada contra a emigração e até acho que nalguns percursos de vida é algo de natural e que as pessoas gostam de fazer. O problema é que quando falamos em meio milhão a sair em poucos anos, estamos a falar de pessoas que autenticamente são expulsas do país", declarou a dirigente bloquista durante o lançamento oficial da campanha eleitoral na capital francesa junto dos emigrantes.
Catarina Martins declarou que o que preocupa o Bloco "é o país que manda sair gente", "a crise demográfica terrível" e "o abandono dos emigrantes por várias formas", desde o "abandono das comunidades emigradas há mais tempo", o "abandono do apoio social aos emigrantes não qualificados" e a perda para Portugal dos emigrantes qualificados.
Anna Martins, presidente da associação de jovens lusodescendentes Cap Magellan, queixou-se que Portugal "abandona e maltrata os seus cérebros e não apoia as associações que servem de complemento ao serviço público" ao darem aulas de português, por exemplo, acrescentando, ironicamente, que "um primeiro-ministro que convida à emigração e depois lança o programa VEM, com 20 projetos, é gozar com a cara" dos jovens.
Por sua vez, José Cardina, vice-presidente da Coordenação das Coletividades Portuguesas de França – que reúne mais de uma centena de associações – explicou que recebe "cada vez mais telefonemas de pessoas em dificuldades" e a pedir ajuda, ainda que a organização "não tenha meios" porque "todos os apoios foram cortados".
José de Barros, vice-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Paris, disse que "nunca esperava ter de apoiar novos emigrantes que estão a chegar", denunciando um "deserto total de apoios da parte francesa e portuguesa" aos recém-chegados e explicando que um terço dos reformados portugueses em França vive abaixo do limiar da pobreza.
"Hoje, aquela ideia do regresso a Portugal para a emigração antiga parece uma coisa do outro mundo porque desapareceu. Jamais a emigração que veio nos anos 60 voltará e os novos que vêm com a mesma ideia de regressar [a Portugal] nunca mais vão regressar também", afirmou José de Barros, que chegou a França em 1964, e que entregou a Catarina Martins o estudo promovido pela Santa Casa "Os Portugueses na Hora da Reforma".
Os portugueses residentes e recenseados no estrangeiro votam por correspondência e têm até ao dia das eleições para enviar o boletim de voto, sendo o apuramento geral realizado no dia 14 de outubro, segundo o mapa-calendário divulgado pela Comissão Nacional de Eleições.
Lusa/SOL