Esse ovo (representado na imagem) divide-se em cinco partes: uma calote correspondente à extrema-esquerda (incluindo o PCP), com cerca de 15% dos eleitores; um segmento correspondente à esquerda moderada (PS), com 25% dos eleitores; um segmento central, com 20% dos eleitores; um segmento correspondente à direita moderada (PSD), com 25%; e finalmente uma calote correspondente ao CDS e extrema-direita, com 15%.
Estes valores podem variar de eleição para eleição, mas no geral o ovo tem-se mostrado uma base de trabalho fidedigna.
O segmento central, correspondente a 20% dos eleitores – cerca de um milhão de votos -, é aquele que decide as eleições.
É formado por pessoas não partidarizadas, que não têm uma opção definida à partida e votam de acordo com as circunstâncias.
Inclinando-se ora para um lado, ora para o outro, a massa de ‘eleitores oscilantes’ funciona como um fiel de balança que, nas várias eleições, vai dando a vitória à direita ou à esquerda.
Mas como se compõe, nos dias de hoje, esta massa heterogénea?
A meu ver, divide-se essencialmente em três grupos:
1. Pessoas da classe média que foram afetadas pelo aumento brutal de impostos e viram o rendimento reduzir-se, mas têm emprego e não foram obrigadas a alterar substancialmente os seus hábitos, mantendo um nível de vida razoável.
Esta gente está toda zangada com o Governo, mas uma parte preferirá a segurança da continuidade à aventura da mudança, que pode traduzir-se em novas surpresas. Assim, muitos deles optarão por votar na coligação;
2. Pessoas da classe média que ficaram à beira da miséria, incapazes de satisfazer os compromissos assumidos. Umas foram obrigadas a sair das suas casas, outras tiveram de tirar os filhos das escolas que frequentavam, outras ainda perderam o emprego e tiveram de mudar radicalmente de vida, etc. Esta gente tem muito pouco a perder, só pode ganhar com a mudança politica, e por isso votará maciçamente no PS;
3. Reformados que perderam rendimentos. São pessoas magoadas, indignadas, revoltadas mesmo com o Governo. Mas não vão votar todas do mesmo modo. Umas já optaram pelo voto de protesto (num qualquer partido da oposição), outras acham que o pior já passou – e receiam que uma mudança possa deitar tudo a perder, obrigando-as a passar outra vez pelo mesmo calvário. Até pela sua fragilidade, podem temer a mudança mais do que quaisquer outros segmentos do eleitorado.
A coligação e o PS disputam pois, palmo a palmo, estes ‘eleitores oscilantes’.
Nesse sentido, Passos Coelho e Paulo Portas martelam constantemente a ideia de que António Costa e José Sócrates são uma espécie de irmãos siameses – e que, se o PS voltar ao Governo, repetirá os erros do passado.
António Costa, pelo contrário, espalha por toda a parte a palavra «Confiança», tentando convencer os eleitores de que, se votarem nele, não têm nada a temer.
Uma coisa parece certa: é entre o ‘receio da mudança’ e a ‘vontade da mudança’ que as eleições se vão jogar.
Conforme prevaleça um sentimento ou outro, ganha a coligação ou ganha o PS.
Se Passos e Portas conseguirem convencer dois terços dos ‘eleitores oscilantes’ de que, com um Governo do Partido Socialista, haverá um regresso ao passado, a coligação vencerá.
Façamos as contas.
Dois terços do ‘eleitorado oscilante’ correspondem a 13%; se a estes somarmos os cerca de 25% de votantes fiéis do PSD e mais 8% do CDS, chegaremos aos 46%; mas a estes há que retirar os eleitores do PSD que se zangaram com o Governo e que, desta vez, não votarão na coligação chefiada por Passos Coelho.
Basta ver o que disseram Manuela Ferreira Leite, António Capucho, Pacheco Pereira, etc. (que não se representam apenas a si próprios, antes refletem a posição de muitos simpatizantes tradicionais do PSD).
Se estes sociais-democratas ‘revoltados’ representarem 5 ou 6%, a coligação ficar-se-á pelos 40% – resultado que, mesmo assim, lhe garantirá a vitória.
Consideremos, agora, a hipótese contrária.
Que o Partido Socialista conseguirá transmitir confiança à maioria dos ‘eleitores oscilantes’, convencendo-os de que poderão melhorar a sua vida sem correr riscos.
Nesse caso, serão os socialistas a beneficiar de 13% de eleitores do segmento central – que, somados aos seus 25% históricos, e a mais uns pós da esquerda, atingirão os 40%.
E aí o PS ganhará as eleições.
Este simples exercício matemático mostra que ainda está tudo em aberto – e mesmo a maioria absoluta é possível para qualquer lado.
Tudo gira, como dissemos, à volta da atitude que prevaleça em relação à ideia de ‘mudança’.
Mas a dinâmica que se crie durante a campanha eleitoral também pode ser decisiva.
Quem transmitir a impressão de que irá ganhar as eleições beneficiará de uma vantagem importante, pois há muita gente que gosta de votar no previsível vencedor, até para poder dizer que ‘ganhou’.
E, aí, as sondagens – que vão publicar-se diariamente – terão um importante papel.
P.S. – Se o debate de ontem tivesse sido na TV e não na Rádio, Passos Coelho já teria ganho as eleições de 4 de Outubro. Assim, continua tudo em aberto. Mas o confronto serviu para animar de novo os apoiantes da coligação (algo dececionados após o debate de há oito dias) e para quebrar a euforia que se tinha instalado nas hostes socialistas.