Se nada acontecer de extraordinário, como escrevi na passada semana, António Costa ganhará as próximas eleições. Não o digo por particular convencimento, o PS tem um problema de credibilidade que o candidato não conseguiu resolver com a eficácia que precisava para conquistar uma maioria. Sócrates deixou o partido em farrapos, Costa só encarrilou quando se assumiu como ‘dono’ da estratégia – sempre que o aparelho surgiu com ideias, propostas ou reivindicações, as minhocas saíram dos buracos e a coligação ganhou fôlego.
No campo do espetáculo será mais difícil a Passos e Portas levarem vantagem. Por quatro motivos essenciais. Em primeiro lugar, insisto, porque Costa ocupará as ruas. Quando os eleitores compararem as arruadas concluirão que num lado há multidões e no outro uma confusão de lesados, professores, sindicatos e os que mais surgirem. A dinâmica de vitória constrói-se na rua, Passos e Portas não a poderão disputar em igualdade de circunstâncias.
Em segundo lugar porque a generalidade das pessoas gosta de estar com os vencedores, de aproveitar novas oportunidades e, ao contrário do que se tem dito, privilegia a mudança. É um tempo de volatilidade. Tudo e o seu contrário podem coabitar no mesmo dia e na mesma pessoa, nada resiste para a vida (casamentos, trabalho, ideias e até valores) e, tantas e tantas vezes, o ritmo das pessoas assemelha-se ao pulsar de uma ficção televisiva.
Em terceiro lugar porque há muito poucos casos, e nenhum em Portugal, em que depois de “apertar o cinto”, o governo tenha vencido as eleições seguintes. O próprio Churchill perdeu as eleições quando era um herói para o mundo, os ingleses embarcaram com ele em “sangue, suor e lágrimas”, mas votaram noutro a seguir aos abraços de fim da guerra mundial.
Em quarto lugar, pequeno e não desprezível argumento, o efeito Ricardo Araújo Pereira em prime time é uma demolidora ameaça. Os Gato Fedorento chegam a milhões de pessoas e têm um alvo a abater: Passos Coelho. O principal e mais popular humorista português é uma faca aguçada que influenciará mais do que todos os editoriais, comentários de especialistas ou primeiras páginas de jornais. Não é um pormenor.
Mas Passos Coelho ainda tem uma hipótese. É certo que se Sócrates não tivesse existido a coligação não poderia vencer as eleições, mas também é claro que o primeiro-ministro é reconhecido pelo país como um homem sério que conseguiu equilibrar as contas. Um homem que apesar de tudo tem sido poupado e que, aconteça o que acontecer, mesmo perdendo fortalecerá o seu capital político. No futuro poderá ser o que quiser. E por isso, paradoxo dos paradoxos, tem ainda uma chance de derrotar Costa. Para o conseguir Sócrates terá de surgir na boca de cena ou, poderosa alternativa, acontecer algo de realmente grave ou comovente. Lembram-se da Marinha Grande e de Mário Soares?
Artigo publicado na edição impressa do SOL, no dia 18 de Setembro de 2015