“Defendemos é que cada família de migrantes tenha um alojamento autónomo, sendo acompanhada por uma família portuguesa”, explicou ao SOL Rui Marques, considerando que “há um risco elevado de se criarem situações de conflito” se os refugiados ficarem em casa dos portugueses, porque este tipo de apoio é pesado e vai arrastar-se durante, pelo menos, dois anos. “Em pouco tempo, podemos passar de uma boa vontade generosa a uma fonte de problemas”, refere.
Também o diretor do Serviço Jesuíta para os Refugiados em Portugal (JRS) alerta que o acolhimento em casa de famílias, que está a ser adotado em França, obriga a uma seleção mais exigente destes lares. “Nem todas as pessoas estão preparadas para a realidade destes migrantes, que têm traumas que desconhecemos, que poderão ter visto morrer familiares, ter sido torturados e precisam de um grande acompanhamento”, defende André Jorge Costa.
Para o sociólogo Pedro Góis, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, não há dúvidas que é mais seguro o modelo de acolhimento proposto pela PAR, em que os refugiados ficam sob a tutela de instituições com quem assinam um contrato de direitos e deveres, contando depois com a ajuda de famílias portuguesas para os integrarem na comunidade. “Acolher uma família de refugiados em sua casa implica tornar-se responsável por ela. E se estes refugiados de repente, abandonarem o país sem aviso?” – questiona o professor universitário, lembrando que o acolhimento sob a responsabilidade de uma instituição oferece mais garantias e também facilita o controlo de todo o processo de integração.
Para este professor, a grande dificuldade que estes refugiados vão encontrar em Portugal não será a língua nem os choques culturais, mas sim conseguir um emprego que lhes permita tornarem-se independentes. “A economia pode não crescer o suficiente para dar resposta a esta vaga: há o risco sério destes refugiados não terem onde trabalhar”.
Governo faz levantamento de lugares em escolas
O Governo ainda não esclareceu se vai existir outro modelo para acolher os 4.500 refugiados, além daquele já acordado com a Plataforma.
Fonte oficial garante apenas que o Executivo vai “privilegiar a integração [dos refugiados] na comunidade” e que a sua distribuição no país será articulada com a oferta que está a ser organizada no terreno pelas instituições.
Neste momento, sabe o SOL, o Executivo está a ultimar o levantamento exaustivo das capacidades do país em termos de alojamento, educação, ensino do português e cuidados de saúde, que serão garantidos aos refugiados durante o tempo que ficarem em território nacional, que não será inferior a dois anos.
Esse mapa de ofertas foi pedido pelo Governo aos municípios e à PAR, que tem centralizado as propostas da sociedade civil, recolhendo já ofertas de mais de 100 instituições e quase seis mil voluntários.
Todos os dias, chegam à PAR novas inscrições: desde escolas privadas que querem acolher famílias, a cidadãos e paróquias que oferecem casas. O pároco lisboeta de S. Vicente de Paulo, Francisco Crespo, já se candidatou para albergar uma família numa casa cedida por uma paroquiana que morreu. “Temos capacidade para dar apoio na alimentação, nas despesas, na escola das crianças, no vestuário e para arranjar trabalho para o casal no Centro Paroquial”, explicou o sacerdote que aguarda agora resposta da PAR.
No seu bairro, aliás, já vive uma família de refugiados da guerra na Síria, de onde fogem a maioria dos migrantes que chegam à Europa. A família, um casal com dois filhos pequenos, saiu da Síria e, este verão, chegou por sua iniciativa a Portugal. Ao padre apenas pediu apoio para a entrada das crianças na creche.
*com Rita Carvalho