Há cinco anos que não se consumia tanto

Os portugueses mudaram de forma drástica os hábitos de consumo e de poupança, nos últimos meses. Segundo cálculos do SOL com base em indicadores do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelados esta semana, os gastos das famílias atingiram um volume sem precedentes nos últimos cinco anos.

As despesas de consumo final das famílias atingiram mais de 29,6 mil milhões de euros no segundo trimestre deste ano. É preciso recuar ao terceiro trimestre de 2010 para encontrar um período em que os gastos tenham sido maiores.

Com esta tendência recente, o dinheiro que as famílias põem de parte está a recuar. Também no segundo trimestre, a taxa de poupança foi de 6,7%. Este indicador mede a fatia do rendimento disponível que não é utilizado em consumo pelas famílias e está num nível historicamente baixo – seja a nível trimestral seja a nível anual, em que caiu para 5%.

Já tinham surgido indicações de que as famílias estão a gastar mais – grande parte da recuperação do Produto Interno Bruto deve-se precisamente à componente de consumo da procura interna.

A compra de carros, uma das componentes mais importantes do consumo interno, está a subir mais de 30%. Muitas destas compras foram financiadas com o endividamento das famílias. O crédito ao consumo a particulares cresceu 35,5% no segundo trimestre.

Novo produto para famílias

Um dia depois de o INE revelar que a taxa de poupança das famílias portuguesas caiu, o Governo anunciou o lançamento de um novo produto de poupança do Estado destinado ao retalho, que diversifica as fontes de financiamento da República portuguesa.

As Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV) serão lançadas a «breve prazo», talvez ainda este ano, adiantou a ministra das Finanças após o Conselho de Ministros.

Na prática, este novo instrumento de aforro irá funcionar como as Obrigações do Tesouro (OT) que são adquiridas sobretudo por investidores institucionais, como bancos ou fundos de pensões. Poderá ser transacionada em mercado.

Atualmente, os particulares já podem investir nas OT tradicionais, mas os custos são elevados. As OTRV terão um custo mais baixo ou serão isentas de comissões, uma das várias características ainda por esclarecer.

O novo produto terá maturidades de «médio a longo prazo», cinco a dez anos. A taxa de retorno será variável e indexada às Obrigações do Tesouro tradicionais, que estão neste momento a pagar 1,2% a cinco anos e 2,5% a dez anos.

As famílias portuguesas poderão investir no mínimo 1.000 euros e no máximo um milhão de euros. Estas obrigações serão vendidas aos balcões dos bancos aderentes.

Além do pagamento de juros, o investimento nas OTRV será compensado com «um pequeno prémio, dependendo das condições de mercado». O prémio poderá ditar a maior ou menor atratividade face aos Certificados do Tesouro Poupança Mais, o produto  financeiro público que mais aderentes tem conseguido nos últimos anos.

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