A febre é tal que há, inclusive, uma rede social dedicada em exclusivo à arte de tricotar – a Ravelry, que já conta com mais de quatro milhões de utilizadores – e, daqui a duas semanas, realiza-se em Londres o The Knitting and Stitching Show, o maior festival de tricô do mundo. É lá que Luísa Ló – apaixonada pelo ofício há vários anos, autora do recém editado O Tricot da Luísa e proprietária da Malhas & Cia., na Parede – vai estar entre 7 e 11 de outubro. A acompanhá-la estarão oito clientes, entretanto tornadas amigas, que se juntam na sua loja todas as terças, durante duas horas, para tricotarem em grupo.
A vontade de fazer um livro para principiantes – que reunisse dicas sobre como segurar as agulhas e o fio, para depois se construírem as malhas, desvendasse alguns dos pontos mais populares e apresentasse dezenas de peças que se podem fazer de raiz em casa – surgiu com a perceção de que há cada vez mais pessoas a fazer tricô. E, surpreenda-se, não são só mulheres. «Conheço muitos homens que fazem tricô. A maioria, é verdade, ainda faz às escondidas, mas o estigma está a desaparecer e já há um movimento a crescer nos Estados Unidos entre os homens». E que homens! Só para citar alguns, entre os discípulos da prática contam-se os atores Ryan Gosling, Russell Crowe e David Arquette, e o músico Sufjan Stevens.
Apesar da revelação inesperada, a verdade é que, segundo Luísa Ló, foram os homens que inventaram o tricô. As razões ainda hoje não são claras, mas os historiadores avançam a necessidade de caçar e de pescar como argumentos válidos para a invenção de entrelaçar fios com utensílios pontiagudos (julga-se que tudo começou com ossos de animais) ter partido do sexo masculino. Desses tempos até aos dias de hoje toda a gente sabe o quanto evoluímos, daí que o tricô seja atualmente utilizado pelos homens com outro fim: relaxamento. E parece que a prática é mesmo um ótimo antídoto do stress.
De acordo com um estudo do British Journal of Occupational Therapy, citado pelo diário Daily Mail, em 81% dos casos fazer tricô ajuda a superar uma depressão, com os tricotadeiros a sentirem-se «muito mais felizes». Além disso, salienta Luísa Ló, «há uma série de estudos que indicam que o tricô é bom para o sistema nervoso por causa dos seus constantes movimentos repetidos». Essa é, aliás, uma das razões que, segundo o Independent, levou Russell Crowe a iniciar-se na atividade. O jornal britânico diz que esta foi a forma encontrada pelo ator australiano para lidar com os seus problemas de agressividade, e parece estar a resultar.
Já Ryan Gosling – à semelhança de colegas de profissão como Sarah Jessica Parker e Julia Roberts, ou da manequim Cara Delevingne – usa o tricô como distração, durante os longos períodos de espera entre filmagens. Luísa Ló defende que o tricô é «um excelente passatempo» e traz muitos mais benefícios para a saúde em comparação com, por exemplo, passar muitas horas «agarrado a um tablet». «Além de relaxar, evita doenças mentais porque obriga a fazer muitos cálculos, influencia de forma positiva os valores da tensão arterial e promove a autoestima».
É por isso que a autora de O Tricot de Luísa é uma acérrima defensora da prática. Na sua loja Malhas & Cia promove vários workshops e encontros entre entusiastas da atividade que não se conhecem, mas têm ali o mote perfeito para passarem «tempos de lazer de qualidade, em comunhão com outros apaixonados pelo tricô». Nestes cinco anos de porta aberta, Luísa Ló tem notado o interesse crescente de participantes e, sublinha, o caráter transversal em termos sociais, económicos e etários dos mesmos. A par dos homens, o mais surpreendente é ver «miúdas com 10, 11 ou 12 anos» que começam agora a tricotar. «Querem fazer as suas próprias peças e ajuda o facto de, nos últimos anos, as tendências da moda terem muita coisa feita em tricô», comenta Luísa, enquanto se prepara para meter na mala que vai levar para Londres em outubro peças de lã bem quentinhas feitas por si, ou não fosse o inverno britânico bastante rigoroso.