Um mapa térmico do planeta disponibilizado pela agência norte-americana NOAA (Autoridade Nacional para os Oceanos e a Atmosfera) confirma essa ‘mancha azul’ num planisfério repleto de pontos vermelhos, os tais onde se registaram recordes de temperaturas elevadas.
Com base em dados de janeiro a agosto, esse mapa teve em conta temperaturas registadas desde 1880. E para uma ‘caixa’ ficar totalmente azul as temperaturas para todos esses oito meses teriam, no mínimo, de estar abaixo das registadas há 80 anos, explicou ao jornal Sydney Morning Herald o chefe do departamento de monitorização climática da NOAA, Deke Arndt.
Então o que explica esse ponto gelado no Atlântico Norte? Uma teoria que ganha cada vez mais adeptos entre os investigadores, e que está a gerar maior preocupação, é a de que o Oceano Atlântico está a ‘abrandar’.
Os oceanos, e a vida que neles existe, dependem muito das correntes frias e quentes que os atravessam, com efeitos óbvios nas zonas costeiras e nos continentes em geral. O Atlântico ‘circula’ graças às águas do Norte que – sendo mais frias, densas e tendo elevada salinidade – descem em profundidade e são ‘substituídas’ pelas águas mais quentes do Sul, formando esse movimento as correntes.
Com a temperatura a aumentar, as correntes do Sul deveriam manter o seu impacto e levar as águas quentes para Norte, mas chocam com uma outra força que está a baixar a temperatura da água nessa região: o degelo. Se o aumento da temperatura do ar está a provocar o desaparecimento do gelo e dos glaciares, também está a colocar mais água fria no oceano. Essa água que resulta do gelo derretido pode baralhar todo o sistema de correntes oceânicas e impedir a sua circulação habitual.
Os investigadores Stefan Rahmstorf e Michael Mann, que em Março publicaram um estudo que abordava esta teoria, acreditam que as correntes do Atlântico estão mesmo a abrandar. “Há fortes evidências de que [a zona mais fria] é uma consequência do abrandamento gradual das correntes atlânticas, devido ao aquecimento global”, disse agora Rahmstorf ao Sydney Morning Herald, conhecidos os dados médios de temperaturas até agosto.
O cientista não avançou com teorias sobre o que pode ainda acontecer, e não pensa que este arrefecimento da região subpolar “da Terra Nova à Irlanda” seja permanente, mas acredita que as correntes vão continuar a abrandar, com consequências diretas na biodiversidade. E são cada vez mais os investigadores que pensam como ele.